O tempo e a burocracia

O tempo e a burocracia

Sem dúvida, um dos conceitos mais relativos que consigo imaginar é o tempo. Por mais que sua passagem cada vez mais veloz seja praticamente uma unanimidade, ainda assim, é impossível dimensionar quão rápido isso significa, o que só pode ser minimamente suposto se houver um claro parâmetro para comparação. Para exemplificar o que eu digo, só mesmo partindo para as experiências do cotidiano.

Quando assumi a Secretaria de Infraestrutura, em novembro de 2013, na minha concepção — uma pessoa com formação na iniciativa privada e reconhecidamente acelerada até para os padrões mais dinâmicos — um ano representava muito tempo: o período pode representar mais do que o próprio ciclo de vida de um negócio, entre a fundação e o fechamento. No entanto, quando se trata do setor público, os mesmos 12 meses podem significar apenas o começo.

A afirmação acima foi comprovada depois da aprovação, junto ao Ministério das Cidades, do primeiro recurso conquistado para a pasta sob minha gestão: R$ 1 milhão para o serviço de tapa-buracos. A proposta foi aceita no mesmo mês em que iniciei minhas atividades no cargo e, imediatamente, um longo processo foi iniciado. Depois da elaboração de um projeto, submetemos a ideia à aprovação das autoridades uma série de vezes, até que não houvesse uma única vírgula fora do lugar, que contrariasse as regras a serem seguidas. Justo. Depois de então, foi aberto um processo de licitação que, diante da concorrência, vai sendo postergado até que se chegue ao melhor preço e às melhores condições. Esclarecidas todas as possíveis dúvidas e afins, um contrato é assinado e a verba, então, liberada. Desde o dia 10 de novembro de 2014, ou seja, a última segunda-feira, podemos, enfim, comemorar a possibilidade de realizar o trabalho proposto no ano passado. O processo, cansativo e burocrático, não pode impedir a satisfação que se seguiu ao vencer cada barreira.

Com essa etapa concluída, uma nova tarefa precisa começar: tirar o projeto do papel e vê-lo ganhar as ruas. Para isso, o comprometimento das empresas vencedoras da licitação precisa ser total. Iniciado o trabalho, coloca-se uma nova situação: os transtornos que as intervenções a serem feitas tragam, momentaneamente, à população. Por mais que esse incômodo seja passageiro e traga benefícios aos próprios cidadãos, é comum lidar com reclamações por todos os lados.  Essa postura é cultural, e talvez se explique na relação nem sempre transparente e amistosa entre o poder público e a sociedade civil — e isso não é um problema ribeirãopretano, mas brasileiro.

Mas nada disso pode ser motivo para desistir ou se deixar dominar pela irritação. Depois de uma corrida assustadoramente lenta e da dificuldade de colocar em prática um projeto tão trabalhado, verdadeiras lições se apresentam. Pela minha breve experiência, ouso fazer algumas recomendações aos gestores públicos, sendo a primeira delas que tenham muita persistência e não percam a confiança jamais, por mais que a conquista seja demorada. Além disso, manter uma série de projetos em andamento ao mesmo tempo é uma maneira de não despender energia máxima em uma única iniciativa que, sim, pode naufragar depois de muito esforço.

Por último, que deixem claras as limitações enfrentadas, pois esta pode ser uma maneira de sinalizar que é preciso implementar mudanças capazes de tornar o sistema mais eficiente e ágil. Já existem certas ferramentas legais criadas com esta finalidade, mas é preciso dizer que ainda falta muita corda para dar no relógio da burocracia.

Isabel de Farias
Secretária de Infraestrutura e Coordenadora da Limpeza Urbana de Ribeirão Preto

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