O transporte na contramão

O transporte na contramão

A polêmica da vez, em Ribeirão Preto, envolve a Catedral Metropolitana — construção histórica que é tema da matéria de capa desta edição da Revide. São poucos os que não estão a par do imbróglio entre a Prefeitura de Ribeirão Preto e a Igreja Católica, diante da construção de plataformas da estação de ônibus na Praça das Bandeiras, cujas obras já começaram.

Todo o impasse ocorre em razão das incertezas que rodeiam as obras: laudos frágeis, argumentos com pouca sustentação, mas, principalmente, a falta de diálogo e articulação entre o poder público e a sociedade civil.

O projeto foi anunciado em 2012 e hoje, quatro anos depois, com as obras saindo do papel, ainda não foram encontradas alternativas que atendam às necessidades da população e dos passageiros, sem apresentar risco a um local que deve ser preservado. O tempo passou e os desacertos permaneceram. 

Uma rápida pesquisa às principais cidades do planeta pode comprovar o quanto, neste caso, Ribeirão Preto caminha na direção contrária a dos projetos de infraestrutura e mobilidade urbana sustentáveis. A cultura e as origens são pilares tão importantes para as sociedades europeias, por exemplo, que a preocupação em preservar os monumentos é visível em cidades como Paris e Roma. As áreas próximas a patrimônios têm movimento, mas desde que ele não ofereça riscos à estrutura das construções.

No Brasil, grande exemplo pode ser constatado na cidade de Parati, no Rio de Janeiro. O município foi o primeiro do País a restringir a circulação de veículos, inclusive motos, no centro histórico, com o objetivo de preservar os patrimônios. Em Minas Gerais, o Ministério Público abriu inquéritos para investigações em 12 cidades. A grande motivadora da ação foi a desorganização nas vias públicas, que pode comprometer a estrutura de diversos prédios, datados do século XVIII. A primeira cidade mineira a tomar alguma medida de impacto foi Tiradentes, que fechou o trânsito para carros e motos no centro histórico durante as sextas, sábados, domingos e feriados.

Na contramão das iniciativas que buscam a coexistência pacífica entre urbanização e preservação, Ribeirão Preto abriu mão de um diálogo aberto com a sociedade. A cidade tomou decisões ditas técnicas sem avaliar reais danos ao patrimônio. Mesmo apresentando laudos que afirmem a inexistência de riscos, os documentos ainda podem ser contestados e o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) não descarta reavaliar a autorização prévia para as obras.

Em Ribeirão Preto, já são cerca de 500 mil veículos, entre carros, motos, caminhões e ônibus, segundo o Denatran. O número é quase o mesmo que a quantidade de habitantes, que gira em torno de 660 mil. Com esse total de automóveis trafegando pelas ruas da cidade, é impensável que ainda não tenhamos um plano de mobilidade urbana colocado em prática. E é claro supor que sem qualquer organização, os problemas, mesmo que não apareçam a curto prazo, trarão sérias consequências para a cidade. 

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