O verão de nossa desesperança

O verão de nossa desesperança

Tem sido muito difícil manter o silêncio diante do declínio do nosso país. Esse clima de desânimo é quase uma unanimidade. As conversas sempre se voltam para uma perplexidade contida e uma desesperança velada. É quase uma constatação de que não temos como consertar o que foi destruído. E quando será que essa destruição começou?

Estranho pensar sobre os diferentes sentimentos que regem as gerações. Há pouco mais de 30 anos, em meio à década de 80, o Brasil era contagiado por anseios de uma nova sociedade. Muitos se lembram da luta pelas eleições diretas e, mais tarde, nos anos 90, do movimento “cara pintada” que tomou as ruas. Tínhamos esperança de que o que estava ruim podia melhorar. Acreditávamos no nascimento de um novo país, a despeito de uma recente e dura história envolta à ditadura. Era possível sonhar que o país tinha futuro, que teríamos conquistas. 

Os anos se passaram e vislumbramos o desenvolvimento. O Brasil se tornou um país emergente e começava a integrar os grupos de nações que despontavam economicamente no planeta. Tivemos anos de respiro (ainda que não completos, mas relativos) e era possível, até, pensar no país como uma terra próspera.

Em algum momento de nossa história – e talvez não seja possível precisar uma data ou acontecimento exatos – perdemos a direção. Hoje, amargamos uma crise que se arrasta por alguns anos e, entre altos e baixos, o fato é que a luz no fim do túnel ainda não está muito visível. Parece que todos os avanços que o país conquistou se perderam em meio a uma turbulência em que não falta ódio, destempero e desânimo. 

Que diferença olhar para a geração de 30 anos atrás e notar os sentimentos e a postura de quem tem 20 e poucos anos agora. Por esses dias, aconselhei dois jovens a irem buscar outra vida em outro lugar do planeta, mas o mais estranho desse meu conselho é que eu mesma nunca pensei em deixar o meu país. Claro que, com certa frequência, pensamos em viver uma experiência em outro lugar, com o intuito de buscar novos ares. Talvez eu até tenha ponderado a possibilidade de passar algum tempo fora, mas me mudar, definitivamente, nunca foi algo factível em minha vida. Fui contaminada pelo pessimismo e dei a tal sugestão.

Senti certa tristeza por constatar que essa nova geração, que poderia pensar em criar algo novo e contribuir com uma transformação dessa nação perdida em que nos transformamos, está completamente desacreditada do modelo deste Brasil atual.

Como retornar aos trilhos? Como convencer os jovens a reunirem forças para mudar, se até nós, mais velhos, damos como encerrada a luta e nos declaramos derrotados? Já escrevi e digo muitas vezes que sou discípula de Poliana. Insisto na esperança e no otimismo, mesmo nos cenários adversos. É bem verdade que, em algumas situações, a tormenta me atinge e, por certo tempo, ainda que rapidamente, sinto o baque. Mas não tardo a levantar. 

Reencontrar o caminho do desenvolvimento em nosso país é tarefa urgente para erguermos uma sociedade mais saudável política e economicamente. Mas, mais do que isso, a urgência está em retomar o sentimento de que somos úteis e capazes de encontrar saídas. Sem acreditar nessa possibilidade, seguiremos patinando na desesperança.  

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