
O voo da andorinha
Em meio às comemorações dos 30 anos de Revide, é inevitável me lembrar daquela garota de 20 anos que tinha o sonho de trabalhar com o jornalismo.
Em uma entrevista que concedi à própria Revide há 20 anos, eu, à época com 30 anos, explico que nossa ideia em criar a empresa foi em razão de Ribeirão Preto não ter nenhuma revista que fizesse um trabalho jornalístico na cidade. Apenas a TV tinha destaque naquele tempo. Nós, estudantes de jornalismo, não tínhamos dinheiro para fazer um jornal. Podíamos tentar criar uma revista mensal, porque não queríamos ganhar dinheiro. Queríamos escrever em algum lugar. Criamos esse lugar.
Dizem que não se pode esperar pelas oportunidades, é preciso criá-las. Acredito que a Revide tenha sido isso. Uma oportunidade criada por estudantes de jornalismo para avançarmos na carreira e com o desejo de oferecer um novo meio de comunicação para Ribeirão Preto.
O nome da revista, muita gente me pergunta, vem de um poema de Viriato Corrêa. “Um homem não é para ser chicoteado, covardemente, miseravelmente, sem um revide, sem um gesto qualquer de vingança”. Pensávamos em “dar um revide”, fazer jornalismo da cidade reagir, quando criamos nossa revista.
Lembro até hoje, e costumo contar essa história algumas vezes, da primeira reportagem que inventei de fazer na Revide. Queria escrever sobre as andorinhas, o porquê de elas virem para Ribeirão Preto e para onde iriam depois daqui. A ideia era acompanhar as andorinhas. Encontramos alguém que tinha um ultraleve e fui. Imagine: um ultraleve voa em média a 60km/h e as andorinhas a 100 km/h. Um frio de rachar, em pleno mês de junho, e a gente lá, no pequeno ultraleve, morrendo de medo.
Claro que a matéria caiu, que não sairia nunca, mas tivemos a oportunidade de tentar. E acho que isso diz muito sobre mim. Quem me conhece sabe. Dizem que preciso levar um tiro para ter a certeza de que dói. E é mais ou menos assim. Preciso tentar e arriscar todas as possibilidades que acho que valem a pena antes de desistir. Testo, arrisco, e algumas vezes acerto, como no caso da Revide – pois não tenho vergonha em dizer que construímos um modelo de sucesso.
Em 30 anos de trabalho duro, de muitas mudanças, de crises e de reestruturação da empresa, tenho a convicção de que temos muito a comemorar. Não é fácil manter um negócio no Brasil. Dizem as estatísticas que a maioria das empresas que nascem no País sobrevivem no máximo dois anos.
Resistir por 30 anos só foi possível, e é, graças a muito trabalho, dedicação e defesa do projeto. Acredito na Revide como em nada mais. Depositei uma vida na revista. São sonhos, projetos, tristezas e alegrias que compartilho nesse trabalho. Tudo isso graças a outras grandes pessoas com quem me encontrei nessa trajetória e que ajudam a fazer da Revide o que ela é: a revista de maior prestígio e credibilidade que Ribeirão Preto já teve.
Como aquelas andorinhas que tentei perseguir, também não consigo rastrear a Revide. Não imaginava que, saindo de onde saí, chegaria onde estou. Tem sido um grande voo de três décadas, que não sabemos em que direção irá no futuro. Para comemorar esses 30 anos, nada mais justo do que agradecer cada parceiro que me acompanha, há longa ou curta data, e também acredita no projeto que defendo. Se fosse escrever o nome de todos que fazem parte desses 30 anos, certamente seria preciso publicar uma edição exclusiva, apenas com essas citações. Como isso não é possível, uso este espaço para agradecer, muito, muito e muito, a todos que fazem parte dessa história. Obrigada.