Onde vivem os monstros

Onde vivem os monstros

Nossos instintos mais primitivos e bárbaros são sempre, foram, desde a vida nas cavernas, sendo suprimidos e domados pelas tais regras de convivência em sociedade. Seja legislação ou apenas bom senso, a civilização só conseguiu avançar e evoluir de maneira organizada (ou nem tanto assim), muito em função desses limites estabelecidos e dessa habilidade racional que desenvolvemos de conter nossos impulsos.

Parece, no entanto, que essa ascensão ao longo de milhares de anos se transformou em queda de uns tempos para cá. É fato que a evolução não foi constante, as guerras ao longo da história da humanidade estão aí para comprovar que nem sempre o entendimento pacífico prevalece. Mas é fato, também, que as pessoas nunca estiveram tão dispersas com relação às normas de conduta e de etiqueta para uma convivência minimamente adequada com o próximo.

Talvez as redes sociais e a falta de regulamentação no ambiente virtual tenham sido as grandes responsáveis por essa falta de empatia que tem tomado conta dos tempos atuais. Perdemos a noção do que é público e do que é privado, do que é ofensa e o que é expressão de opinião, do que é calúnia e do que é crítica, do que é informação e do que é boato.

Existe uma linha divisória muito tênue entre o que seria uma simples indicação de boas práticas e o que seria censura. Como não há uma legislação que regulamente, oficialmente, a vida virtual, fica difícil para qualquer empresa, ou organização privada, delimitar a conduta de seus funcionários no mundo on-line, por exemplo. Sem essa educação dentro de casa ou no trabalho, torna-se impossível administrar os conflitos.

A mim parece que uma boa solução para uma convivência pacífica nas redes sociais é atuar virtualmente como agimos (ou deveríamos) pessoalmente. Ninguém (ainda) sai agredindo e ofendendo o outro apenas porque o acha feio, baixo, alto, gordo ou magro. Já na internet é diferente: tudo, inclusive as características físicas, são motivo de comentários agressivos.

A falta de consequência para qualquer atitude mais extravagante pode ter comprometido esse desenvolvimento nada sustentável da nossa vida virtual. Talvez tenhamos perdido o tal timing para organizar esse novo modelo que tomou tanto espaço e, a que tudo indica, é irreversível.

A luta parece inglória, com novas gerações cada dia mais conectadas e nem tão orientadas sobre a vida virtual, afinal nós, os adultos, também não estamos muito bem conduzidos nesse universo.

Ainda assim, não acredito que deixar a maré correr sem tomar qualquer providência para tenhamos uma convivência mais pacífica seja uma opção. É preciso buscar saídas, por mais difíceis que sejam, em um ambiente completamente fora de controle.

Empatia e bom senso não serão produzidos pela tecnologia. A maneira como lidamos com nossos sentimentos e o lugar onde habitam nossos monstros não são virtuais: são reais, humanos e dependem exclusivamente de nós. 

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