Outro olhar

Outro olhar

Cada observador, independente do ângulo, traz com ele uma bagagem sem a qual fica impossível interpretar, transformar em percepção aquilo que se vê.



Toda cena permite uma infinidade de perspectivas. Tudo aquilo que pode ser observado ganha cara nova, dependendo do ângulo por onde se olha.  Até mesmo a Mona Lisa, o mais famoso quadro do mundo, com seus olhos e seu sorriso enigmáticos que parecem nos acompanhar a cada passo, tem suas particularidades quando olhada de frente ou de lado. Além disso, cada observador, independente do ângulo, traz com ele a mesma bagagem, sem a qual fica impossível interpretar, transformar em percepção aquilo que se vê. Foi com o olhar de jornalista, empresária e cidadã que sempre observei o andamento da administração pública em todas as suas esferas. Como brasileira, sempre me indignei com a burocracia e a morosidade que são inerentes ao sistema. Nunca compreendi muito bem as razões que levavam a tantas ações capazes de macular a reputação do setor político que, por definição, deve guiar ou influenciar os rumos de uma sociedade inteira.
Há cerca de seis meses, decidi que era hora de buscar uma nova ótica e tentar, mesmo sem experiência ou profundo conhecimento, dar minha parcela de contribuição. Por isso, estou secretária de Infraestrutura de Ribeirão Preto — o verbo escolhido para a afirmação anterior reforça propositalmente a perenidade do cargo, muito clara aos meus olhos. Desde os primeiros dias, fui para o meu novo posto de trabalho com muita vontade para entender e com total disposição para encontrar a melhor forma de colaborar para melhorar as condições da cidade. Eu também estava insatisfeita: ruas esburacadas, limpeza em falta e próprios públicos abandonados. Busquei junto a colegas e especialistas o conhecimento que me faltava para entender as necessidades e traçar um plano de ação rumo às soluções. Estes foram os primeiros passos dados.

A segunda providência foi compreender não só como executar, mas como fazer corretamente todas as atividades que a pasta exige. São muitos os processos e etapas a serem cumpridos. Confesso que a nova realidade tinha pouca ou nenhuma semelhança ao que eu estava habituada a enxergar na minha rotina de empresária. No setor privado, que também impõe uma série de dificuldades, o ritmo é bem veloz, e eu aprendi a acompanhá-lo em quase 30 anos. Ao mudar minha perspectiva, pus-me diante de um novo desafio: não atropelar o andamento da máquina pública e, ao mesmo tempo, não deixar que o novo ritmo fosse internalizado sem necessidade. Quando há uma vontade muito grande para fazer, é preciso ter total autocontrole: se pisar no freio com muita força pode se tornar um problema, acelerar demais o andamento das ações também não é a solução. Aí está uma equação que não pode ser resolvida com precisão matemática. Trata-se de uma situação desafiadora até para os mais experientes. 

A grande questão que se coloca é determinar qual a medida ideal para cumprir a função corretamente, respeitando as particularidades do novo universo sem perder de vista o desejo de mudança e a vontade de fazer diferente. Para chegar à dose certa, mesmo aprendendo a olhar para a administração pública sob esta nova perspectiva, mantenho os mesmos valores, motivação e energia que sempre me moveram.

Isabel de Farias
Secretária de Infraestrutura e Coordenadora da Limpeza Urbana de Ribeirão Preto

 

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