Paciência e sabedoria

Paciência e sabedoria

Dizem que esta é a geração mais ansiosa desde o início dos tempos. Essa tal ansiedade, que atinge os seres humanos de forma mais intensa (e com diagnóstico médico), já acomete 9,3% da população brasileira, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). No mundo, segundo a mesma OMS, 33% das pessoas convivem com esse distúrbio, considerado um dos males do século. 

 A correria dos nossos dias, o excesso de informação, a cobrança pela felicidade constante e duradoura, a necessidade de ter sucesso profissional e tantos outros fatores com os quais convivemos, diariamente, contribuem para a formação de um cenário desfavorável ao gerenciamento das nossas tristezas e frustrações. 

Ainda que não sejamos arrebatados pela ansiedade patológica, é fato que estamos todos à mercê de uma rotina acelerada, que pouco nos permite refletir sobre cada gesto, cada atitude e cada decisão tomada diariamente. Os dias passam voando e quem, minimamente, consegue prestar atenção no avançar das horas percebe que a velocidade do tempo nos atropela mesmo quando não queremos.

Entre tantas atividades, uma quantidade imensa de tarefas surgem do dia para a noite e ocupam a agenda, levando-nos a deixar de lado os momentos dedicados à reflexão, ao pensamento, às nossas filosofias. Nessa avalanche de compromissos, mal temos tempo para administrar nossas atividades e nossos sentimentos — tenho convicção de que mora aí um grande erro.  

Uma frase de Santo Agostinho ilustra bem a necessidade de pararmos, quando em vez, para entendermos melhor tudo o que temos que lidar. “Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência”, diz. É preciso paciência para entender o tempo certo de tudo o que nos acontece ou daquilo que temos de vivenciar. 

Não estamos muito preparados, por exemplo, para o tempo do sofrimento ou para o tempo da dor, das tristezas, das crises e dos desentendimentos. Queremos que tudo isso passe logo e pouco nos importamos com o que é possível absorver de momentos como esses. Talvez precisemos entender o papel de cada uma dessas ocasiões em nossa vida para tirarmos delas algumas lições que podem nos ajudar a desenvolver resiliência. Nem sempre as coisas sairão como planejamos ou queremos. Precisamos aceitar que há imprevistos e tempos difíceis e todos eles precisam ser respeitados, como parte de nossa trajetória. 

Apesar de tentar aceitar esse raciocínio, sei que, na prática, é tudo muito mais difícil. Temos raiva, irritação e angústias que podem ser paralisantes. Mesmo assim, e ainda que eu mesma viva momentos dolorosos, prefiro depositar em Santo Agostinho a confiança de um grande aliado. Precisamos ter paciência para ter sabedoria. Apenas com calma é que conseguiremos fazer as melhores escolhas e encontrar uma vida menos ansiosa e mais leve. 

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