Palavras de um abraço

Palavras de um abraço

No último domingo, eu estava na missa das 11h da manhã da Catedral, o que faço todas as semanas com o meu amigo Edgard (que nesse dia, especificamente, estava ausente, porque está de férias) e fui surpreendida por um inusitado pedido de um abraço.

É certo que em um espaço como uma igreja é até possível que coisas assim aconteçam, porque ali as pessoas estão desarmadas, à espera, talvez, de algo que lhes dê coragem e força para continuar suas batalhas nesse cotidiano que teima em nos deixar cada vez mais indiferentes e preocupados com aquilo que não tem muita importância.

Volto à minha surpresa, ao pedido do abraço. Uma jovem me agradece por um texto escrito em uma das minhas colunas, publicado aqui neste espaço. O pedido se referia a isso. Disse ela que gosta das minhas reflexões, pediu para que eu continuasse a escrever e afirmou que aquele texto, especialmente, a tinha tocado de maneira diferente. O tema era a gratidão ou a ingratidão, dependendo do ponto de vista.

No primeiro momento, meu primeiro sentimento foi de uma certa timidez. Parece que fui pega no flagra. Fiquei bem envergonhada. Acho que escrever na minha primeira pessoa soa como uma confissão para um amigo, mas quando publicamos o texto, tudo aquilo parece que deixa de ser nosso. Acho que no momento em que o texto é impresso ele deixa de ser seu, para passar a ser uma ideia, uma semente que pode prosperar ou não. 

O que mais me mobilizou foi pensar como, de alguma maneira, cada um de nós tem coisas a dizer. Foi tudo muito rápido e não tive tempo nem de perguntar o nome dela. De perguntar por que ela, tão jovem, tinha se identificado com algo que só a vida e a experiência poderiam dizer. Será que ela já sofreu essa tal da ingratidão de alguém? 

Fiquei aqui pensando que não há caminho que não precise ser percorrido por nós mesmos para entendermos o verdadeiro significado do que é importante, do que vale a pena lutar ou por quem precisamos perder o nosso tão precioso tempo.

Ouvindo o comentário do filósofo Mário Sérgio Cortella, dia desses, veio uma certeza. Ele falava sobre a injustiça geral. Citando Martin Luther King para explicar esse conceito nesses tempos de ódio, ele diz que “a injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça de todo lugar”. O que se faz de mal a um homem se faz à humanidade. Aquilo que atinge a um, atinge a todos. Acho que esse conceito vale para os dois lados: se faço o bem a alguém, faço bem à humanidade. 

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