Pelo fim dos tapetes

Pelo fim dos tapetes

Há alguns dias, o apresentador Antônio Carlos Morandini me convidou para participar de uma entrevista em seu programa na TV. A primeira pergunta? Se eu sou candidata à prefeitura de Ribeirão Preto.

Esse questionamento se tornou frequente após minha estada na Prefeitura, por quase dois anos, como secretária municipal. Desde então, tenho me acostumado a esclarecer os motivos que me levaram a prestar serviço público e quais as minhas aspirações políticas.

Minha resposta tem sido a mesma sempre que sou inquirida sobre o assunto. Quando você começa a realizar qualquer trabalho em um ambiente político, naturalmente se torna um nome a ser considerado dentro do jogo, passa a ser mais uma peça no tabuleiro.

Todas as vezes, no entanto, lembro dos pressupostos de qualquer disputa eleitoral: a necessidade de um grupo de apoio, um partido político, uma organização mínima que permita articulação entre as entidades municipais e os agentes participativos de Ribeirão Preto.

É possível construir tudo isso? Claro que sim, mas o que tenho reiterado é que ninguém precisa de cargo público para buscar a diferença, enfrentar a realidade e realizar mudanças - mesmo que não seja fácil. Enquanto cidadãos, temos de participar e tentar ajudar com o que pudermos em nossa cidade, nosso Estado, nosso País. Não dá mais para assistir a Ribeirão Preto e ao Brasil de camarote. Não podemos mais aceitar esta lógica perversa da falta de recursos, das decisões erradas, da falta de transparência de um sistema que teima em ser corrupto. 

Tenho conversado com alguns candidatos, trocado ideias sobre a política em nossa cidade. Tenho pensado de que maneira o que vivi e aprendi pode ser útil no processo eleitoral, que definirá novos e — espero — bons rumos para Ribeirão Preto.

Sempre acreditei no compartilhamento de ideias e de projetos e sigo certa de que o diálogo é o principal caminho para uma melhor organização do sistema de governo. Essa crença ficou ainda mais evidente quando notei que órgãos particulares podem dialogar tranquilamente com o governo municipal. Dentro do poder público, cada vez que tentava implementar alguma proposta nesse sentido, ficava ainda mais clara a necessidade de se rever inteiramente a máquina pública — o que acredito ser fundamental. 

Em uma das vezes em que externei a possibilidade de buscar parcerias com a iniciativa privada, houve quem fizesse de tudo para desacreditar a iniciativa. O projeto, viável e bem-sucedido, foi reduzido a uma mera tentativa de “passar a sacolinha”. Uma visão jocosa e minimalista de tudo o que pode ser concretizado com diálogo e articulação entre os governos e a própria sociedade. Uma opinião sem conhecimento de causa, um desestímulo à busca de novos caminhos.

Dessa entrevista que citei no início, houve réplica da Administração Municipal. Um secretário se prontificou a rebater minhas colocações na TV e a minimizar, mais uma vez, as dificuldades de Ribeirão Preto. O representante da Prefeitura apequenou a discussão em sua entrevista, utilizando argumentos pessoais. Disse que eu não participava de jantares ou eventos de lazer junto dos outros secretários municipais, por isso a incompatibilidade. Ignorou os apontamentos políticos, como se mais importante do que questionar e buscar caminhos ao município fosse compartilhar alguns comes e bebes.

Não me incomoda o debate. O que me incomoda é o excesso de discurso. Até quando deixaremos a prática de lado? Até quando vamos falar e não fazer? Até quando a sujeira será empurrada para baixo do tapete? Aliás, e se acabássemos com os tapetes? 

Compartilhar: