Pequenas ações, grandes mudanças
Os noticiários não andam animadores quando o assunto é o meio ambiente. O clima quente e seco, predominante em boa parte do país, tem contribuído para fazer verdadeiros estragos em várias regiões. Ribeirão Preto também está sofrendo duramente os efeitos dessa realidade. Além dos inúmeros focos pontuais de incêndio, a cidade perdeu, no dia 31 de agosto, uma parte de seu maior patrimônio verde, a Estação Ecológica de Ribeirão Preto, ou Mata de Santa Tereza, como é conhecida. Conforme os últimos dados divulgados, 78 hectares pegaram fogo, o que significa mais de 50% da área total.
Ao contrário da rapidez com que as chamas — iniciadas, segundo suspeitas, por um rito que envolvia velas acesas — alastraram-se, a recuperação do local deve demorar décadas. Apesar disso, ou melhor, por conta dessa lenta evolução, é preciso começar a investir nessa recuperação o quanto antes. Na tentativa de contribuir para isso, a prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera, através das redes sociais, fez um pedido à população, para que ela ajude a recuperar a mata. A iniciativa ainda aguarda autorização do Instituto Florestal do Estado de São Paulo, mas propõe que os interessados retirem mudas nativas no Horto de Ribeirão Preto e, pelas mãos dos profissionais, as plante na Mata.
A iniciativa parece simples, e realmente é. Plantar uma árvore é uma ação que não exige conhecimentos técnicos apurados ou grande investimento. Qualquer pessoa, orientada por um profissional, pode fazer um bom trabalho nesse sentido. Talvez esteja exatamente nessa simplicidade, o grande valor de plantar uma árvore. Digo isso porque este ato ilustra com perfeição uma certeza que trago comigo: as pequenas ações guardam com elas as grandes mudanças da sociedade. Sozinho, em família, junto aos vizinhos diante da postura na empresa é que cada um pode buscar fazer a diferença. Sempre há, por mais que o cenário esteja longe de se tornar ideal, uma árvore ou uma área verde próximo à sua casa ou seu trabalho. Ficar atento àquele espaço verde já é uma forma de contribuir com o todo.
Em vez disso, o que vemos são, muitas vezes, podas realizadas sem orientação adequada ou jardins particulares bem cuidados, mas cujos descartes ficam ali, na beira das guias, sem aviso à administração municipal e nenhuma preocupação em manter o local limpo fora dos muros. A comunicação é feita pelo Serviço de Atendimento ao Munícipe (SAM) quando se bem entende, geralmente, quando aqueles descartes já estão lá. Não há um planejamento prévio, um acordo com os responsáveis sobre como jogar fora esta massa verde. Mais uma vez, é importante frisar que as vias públicas levam esse nome justamente porque são de todos, de cada um de nós. Se não valorizamos esses locais como fazemos em casa ou na empresa, como faremos com que as futuras gerações os encarem dessa forma? Mais do que isso, como exigir vias e passeios limpos?
Em uma visita recente a Campinas, fiquei impressionada com a limpeza da cidade no que diz respeito aos galhos. Não encontrei no caminho galhadas ou folhagens espalhadas pelas ruas ou pelas calçadas. Questionados sobre como realiza esse trabalho, os colaboradores da Secretaria de Serviços Públicos explicaram que a legislação vigente no Município é bastante clara sobre os deveres do cidadão em relação ao tema, assim como quanto às responsabilidades do poder público. No caso das árvores nas calçadas, as podas só podem acontecer com a comunicação e a autorização prévia da Secretaria, o que garante que a pasta tenha conhecimento do descarte antes mesmo que ele aconteça.
No entanto, para que a legislação funcionasse, foi preciso contar com a conscientização da comunidade. E assim deve ser em qualquer situação. Sem que a sociedade compreenda seu papel cidadão diante desta ou daquela situação — desde a plantação de uma árvore até sua poda, já adulta e imponente — não há legislação capaz de promover as mudanças necessárias. São as pequenas, ou grandes, ações de cada um as responsáveis pelas mudanças mais significativas da humanidade.
Isabel de Farias
Secretária de Infraestrutura e Coordenadora
da Limpeza Urbana de Ribeirão Preto