A pior síndrome é a do preconceito

A pior síndrome é a do preconceito

Esta semana, resgatei na memória a propaganda assinada pela DM9DDB para a Fundação Síndrome de Down, de 1998. O vídeo, que me emociona a cada vez que assisto, mostra dois garotos, Carlinhos e seu amigo. O primeiro vive uma rotina bem próxima da ideal para qualquer criança, com escola todos os dias, aulas de natação, de piano e tudo mais. Já o amigo dele não tem nada disso. Ao contrário do que uma primeira leitura pode sugerir, Carlinhos é o garoto com Síndrome de Down, enquanto seu amigo é um morador de rua. A peça é encerrada com a mensagem que intitula a reflexão desta semana, que tem como trilha sonora a canção Fake Plastic Tree, do Radiohead, em um casamento perfeito entre som, imagem e mensagem.

De fato, não há como negar que, de maneira geral, existe um olhar pré-concebido e limitado para uma série de grupos e situações. Não apenas as pessoas com deficiência, das mais diversas naturezas, mas todas as minorias são vítimas constantes dessa visão preconceituosa. Os gays, os praticantes de religiões alternativas e até as mulheres são exemplos de que a sociedade atual, apesar de globalizada, ainda tem muito a evoluir para ultrapassar diversas barreiras rumo ao reconhecimento da condição humana como elemento unificador de todas as pessoas, mais forte do que qualquer outro aspecto possível.

Coincidência ou não, a propaganda que descrevo no início deste texto foi resgatada justamente na semana marcada pelo Dia Nacional da Consciência Negra, em 20 de novembro — data da morte de Zumbi, uma das figuras negras mais fortes da cultura brasileira. Controverso, o feriado divide opiniões: por um lado, alguns imaginam que sua existência reforça a diferença e, por outro, entende-se que a questão racial precisa ser colocada na pauta do país, de uma forma ou de outra, porque impacta diretamente na vida das pessoas.

Na minha leitura, o Brasil subdimensiona, historicamente, o papel do negro na sua formação, em todos os níveis, a começar pelo cultural. E por ignorar tal importância, não valoriza a altura sua participação. Some a isso o fato de o Brasil ser um país multirracial, o que gera a (falsa) sensação de que, por aqui, não há lugar para o preconceito. No entanto, não faltam, na mídia e na internet, episódios que derrubam essa teoria. Se as manifestações que beiram à intolerância não bastam, então, há que se olhar para as universidades e os altos cargos executivos para perceber que a proporção racial não obedece o que está explícito nas ruas brasileiras. Mais triste ainda é ver que as populações em risco social, dos mais diversos gêneros, são, sim, definidas pela cor da pele.

Por mais que se busque ilustrar e entender o que significa tudo isso, imagino que ninguém que não sofre, na prática, as consequências de ser julgado pelo tom da pele possa captar o que, de fato, isso representa. O que cada um de nós pode fazer é difundir que nenhuma característica, física ou não, supera a humanidade presente em cada um de nós, única condição realmente capaz de nos diferenciar de qualquer outro ser vivo do planeta. Com ela, a intrínseca capacidade de pensar deveria ser suficiente para permitir uma leitura de mundo mais ampla, como exige de nós a realidade cada dia mais globalizada e livre de fronteiras geográficas.

Compartilhar: