Pode ficar melhor

Pode ficar melhor

No último domingo, o Jardim Irajá foi tomado pelo clima de Carnaval, seguindo o ritmo ditado pelo tradicional bloco de rua Os Alegrões. Certamente, o grupo de 20 amigos que começou a se reunir para resgatar as marchinhas típicas dessa festa há 11 anos não esperava que o bloco ganhasse as proporções que alcançou. Os organizadores calculam que, em 2016, 20 mil pessoas se divertiram ao som do trio que circulou pelo bairro.

Confesso que não sou carnavalesca, mas, como cidadã, não há como passar pela tangente desse feriado e das festas que o circundam. Como moradora da região, dá para ignorar menos ainda a presença dos foliões. Da recente passagem de Os Alegrões, algumas observações merecem ser feitas.

A primeira delas é que, sem dúvida, há uma parcela de ribeirãopretanos aguardando ansiosamente por oportunidades de lazer como essas. Nos relatos que ouvi e nas repercussões nas redes sociais que acompanhei, estavam sempre presentes famílias reunidas, animação, confraternização e alegria, como o próprio nome do bloco sugere. Também não faltaram palavras capazes de sugerir falta de organização e de suporte.

Muitos moradores do entorno destacaram, por exemplo, o trânsito complicado e a dificuldade de estacionamento como marcas da passagem do bloco. Em muitos quarteirões, os foliões se misturavam aos carros, estacionados e até em movimento, que pediam passagem de forma atabalhoada, muitas vezes. Chegar ou sair de casa, para aqueles que não estavam interessados na festa, foi um problema. Quem esteve presente pôde perceber que não havia fiscais de trânsito ou policiamento — mesmo que a segurança não tenha sido problema, em uma primeira análise. 

Havia banheiros químicos em determinados pontos, mas certamente não tantos quanto um público de 20 mil pessoas precisaria, assim como não se viam lixeiras pelo trajeto, possibilitando que os foliões se dirigissem a elas na hora de dispensar o que não era mais necessário. Ao final da festa, assim como no dia seguinte, o lixo espalhado pelas ruas roubou a cena e chocou até mesmo quem participou do bloco, jogando uma latinha de bebida ou outra pelo caminho. 

Aqui, não pretendo fazer nenhum juízo de valor nem, muito menos, acusar os organizadores disso ou daquilo. Também não dá para apontar o dedo para a administração municipal afirmando categoricamente que ela estava ausente. Menos ainda quero deixar a entender que a população, isoladamente, precisa modificar suas atitudes e assumir, de uma vez por todas, sua parcela de responsabilidade pelo lixo na paisagem. O raciocínio que certamente pode contribuir para que a festa seja ainda melhor nas futuras edições é o que propõe uma melhor integração entre todos esses personagens, fundamentais para o sucesso de qualquer evento realizado em uma área ou espaço público.

No meu entendimento, interlocução é a palavra-chave para isso. Foi isso, entre tantos outros aprendizados, que os oito anos em que permaneci à frente da Fundação Feira do Livro, organizadora da Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, ensinaram-me. Da responsabilidade compartilhada entre a sociedade civil organizada, o poder público e o cidadão, cada um fazendo sua parte, é que pode surgir o melhor, sempre, seja no Carnaval ou em qualquer outro dia do calendário. 

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