Por mais cor nessa chapa
A mudança começa justamente nas pequenas ações, na postura assumida dentro de casa e diante da comunidade. Esta é a melhor forma, na minha concepção, de colocar mais tinta na tal “chapa-branca”
Fico muito feliz quando me deparo com ideias que me fazem perceber que as crenças mais arraigadas em mim não são só minhas. Quando essa certeza vem do pensamento de uma nova geração, que ainda terá muito tempo para fazer a diferença, esse sentimento se multiplica. Isso aconteceu comigo outro dia, quando me deparei com um texto de Gregório Duvivier na Folha de São Paulo. Com apenas 28 anos, o jovem colunista já é um dos pensadores mais elogiados da sua geração. Tendo despontado para o grande público, recentemente, por causa do canal na internet Porta dos Fundos, possui em sua (ainda) curta carreira trabalhos premiados no cinema, no teatro e na TV, além de dois livros de poesias, “A partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora”, e “Ligue os pontos – Poemas de Amor e Big Bang”. O primeiro recebeu a chancela de nomes como Millor Fernandes e Ferreira Goulart.
Quem acompanhou a 14ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto teve a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre Gregório em um salão de ideias que aconteceu no dia 22 de maio. Coincidentemente, é da mesma semana o texto intitulado “Ódio chapa-branca”, que me chamou a atenção. Na coluna, que circulou no jornal paulista, no dia 26 de maio, Duvivier evidencia um hábito bastante comum entre os brasileiros: falar mal do Brasil e dos próprios brasileiros, atitude que ele classifica com a expressão que dá nome ao texto.
A expressão foi emprestada dos automóveis oficiais e suas placas de fundo branco, reservados a autoridades governamentais, e serviu para classificar, inicialmente, veículos de comunicação tendenciosos, para não dizer nada mais pesado. O termo, hoje, não é exclusivo da imprensa e pode ser atribuído a um pensamento menos carregado de criticidade, especialmente em relação à administração pública.
Mas, segundo Duvivier, não há forma melhor de não incomodar ninguém do que falar mal de todos ao mesmo tempo. “Todos os políticos brasileiros são corruptos” ou “brasileiros nunca vão aprender” são expressões comuns no discurso popular — ditas por brasileiros. Aí está a chave deste raciocínio: na hora da crítica, o orador está sempre do lado de fora, como um mero espectador dos acontecimentos. Nunca se ouve alguém dizer, por exemplo, “o problema é nosso, que não separamos o lixo reciclável ou não acompanhamos o desempenho do político que recebeu o nosso voto na última eleição”.
Estaria sendo tão leviana quanto esses oradores generalistas se não fizesse, aqui, uma ressalva importante. Há, sim, quem se importe em cumprir seu papel cidadão, cuidando para seguir a legislação como deve ser, apesar de saber que mudanças são necessárias. Mais do que isso, colocam-se como agentes da transformação que querem ver. Mas estas pessoas ainda não formam o grupo majoritário que poderiam formar.
Não sugiro, aqui, que ingressemos todos na política ou algo parecido. Para mim, a mudança começa justamente nas pequenas ações, na postura assumida dentro de casa e diante da comunidade. Esta é a melhor forma, na minha concepção, de colocar mais tinta na tal “chapa-branca”. Ora, se o discurso chapa-branca não impacta efetivamente como se gostaria, quem sabe o caminho para mudar a cartela de cores não seja partir para a ação?
É nisso que eu acredito.
Isabel de Farias
Secretária de Infraestrutura e Coordenadora da Limpeza Urbana de Ribeirão Preto