Princípio renovado

Princípio renovado

Está implícita a reflexão sobre renovação quando chega o período da Páscoa. Religiosa ou não, a maioria sabe que o significado da data vai além dos ovos de chocolate. Ainda que não tenha a mesma relevância a todos, é fato que, para alguns, como eu, a história que envolve a ressurreição de Jesus tem muito significado.

Talvez a crucificação seja um dos maiores exemplos de extremos presentes na Bíblia. Põe frente a frente duas posturas contraditórias do mesmo povo: o momento em que saúdam a chegada de Jesus a Jerusalém e o posterior apoio à crucificação do Senhor após incitação de sacerdotes.

Parece uma história religiosa qualquer utilizada para ilustrar a crença e a fé em uma doutrina superior. Há, porém, referências ao comportamento humano — que, aliás, tem correspondentes em todas as histórias bíblicas — que fazem refletir sobre como temos nos comportado ao longo desses 2018 anos.

Talvez a primeira conclusão que possa ser tirada é de que a marcha dos insensatos existe desde o ano zero. Mais de dois milênios depois, a falta de princípios, baseada em parcos e rasos motivos, persiste. E o pior é que vem acompanhada, agora, de diversos mecanismos escusos que facilitam a manipulação de opiniões. 

Como sempre, não sou de perder a esperança e, por mais que os tempos não sejam dos mais agradáveis, minha tendência é sempre acreditar que há um lado positivo que pode ser visto em cada um desses acontecimentos, sejam históricos ou religiosos.

Na comemorada chegada de Jesus a Jerusalém, houve aqueles que abanaram os ramos e felicitaram a chegada do Senhor, mas que, depois, não se manifestaram em favor de sua crucificação. Não foi a maioria, é certo, mas foram os que mantiveram a crença e a fé naquele homem que retornava. 

É tão mais fácil, sempre, manter-se junto do maior grupo, dos mais fortes, e gritar uma voz que não pode ser ouvida diante de tantos outros que falam mais alto. É compor um coro em que não acredita, apenas para fazer parte da caravana vitoriosa. 

É difícil, por outro lado, ater-se ao que se acredita de fato, mesmo que se posicionar sobre aquilo signifique estar sozinho e defender uma causa solitariamente. Nem sempre temos perto alguém para compartilhar uma ideia, um pensamento ou empreender esforço junto para tomar alguma atitude. Às vezes, a batalha é só.

O que enxergo na renovação da Páscoa é que sempre há a possibilidade de se enganar pela multidão, por informações distorcidas, por distopias. É frequente acompanhar a maré sem muita certeza do lugar para onde ela vai, mas também dá para fazer o caminho inverso.

É mais difícil, não tenho dúvidas, manter-se firme àquilo que se acredita quando os ventos não sopram a favor e quando a maioria quer o contrário. Ser uma única voz, ou fazer parte de um pequeno grupo, enfrentando gigantes ou maiorias não é simples. Mas pode ser muito compensador.

É por tudo isso que tenho convicção de que o verdadeiro significado humano da ressurreição não está no retorno à vida, mas na renovação da maneira de viver. 

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