Qual a sua contribuição?

Qual a sua contribuição?

De todas as decisões que já tomei em mais de 30 anos de vida profissional, duas delas foram, sem dúvidas, as que mais me demandaram jogo de cintura. A dimensão dos projetos a que me propus participar e a exposição pública em cada uma dessas duas funções exigiram dedicação e paciência, mas também me renderam experiência e, principalmente, a possibilidade de refletir sobre qual é, exatamente, o nosso papel, enquanto cidadãos que compõem uma sociedade.

Certamente, o período em que me propus a contribuir como secretária municipal na Prefeitura de Ribeirão Preto foi o mais intenso, no que diz respeito à flexibilidade que precisei desenvolver para lidar com problemas de grandes proporções. Lidar com as questões de uma cidade de mais de 600 mil habitantes não é tarefa fácil. Ter a opinião pública, a imprensa e a torcida que joga contra fazendo marcação cerrada deixa tudo mais intenso e difícil. Foram dois anos que valeram por duas décadas em experiência e vivência.

Ainda que fazer parte do governo municipal tenha marcado minha trajetória intensamente, tenho convicção de que aprendi as maiores lições durante os sete anos em que me dediquei à presidência da Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto. Talvez por muito me identificar com questões relacionadas à educação e sempre acreditar no ensino e no conhecimento como ferramentas de transformação, eu tenha me dedicado integralmente à feira enquanto fiz parte da equipe.

Naquela época, entre 2007 e 2013, lutamos muito para estabelecer o evento literário de Ribeirão Preto como um projeto de referência nacional que, de alguma maneira, pudesse afetar a população, estimulando a leitura e o hábito da reflexão, por meio de intervenções culturais e conferências. 

Claro que não seria – e não é – fácil. As críticas surgem aos baldes. Naturalmente não dá para agradar a todos. Nem se tentássemos. Ouvi muitas reclamações sobre a presença de pessoas na praça que causavam confusão e não estavam ali interessadas nos livros, ouvi reclamações sobre autores convidados, sobre os shows, sobre a estrutura, e tantos outros julgamentos que, às vezes, até desanimavam e tanto esforço empregado parecia não ter sentido.

Agora, lendo, nas redes sociais, algumas críticas sobre a edição deste ano, comecei a refletir sobre essa necessidade extrema da maledicência e de, simplesmente, falar mal do que é novo e diferente, sem propor algo novo como alternativa ao que é criticado. Fico impressionada com a capacidade que temos de falar mal de tudo, logo de cara, sem nos importarmos com o esforço empreendido por quem leva qualquer projeto adiante.

A verdade é que, como qualquer outra proposta pública de intervenção e de grande porte, a feira do livro de Ribeirão se contorce para ser uma contribuição à sociedade, mesmo diante de tantos obstáculos e dificuldades. A crise econômica, nos últimos anos, tem sido um grande complicador e é claro que, em um contexto como o atual, é preciso fazer mais com menos. Posso dizer, empiricamente, que nem tudo o que é sonhado pode ser colocado em prática. Mas tudo o que é possível de ser realizado, é feito da melhor maneira possível.

Apesar das críticas, das limitações ou das dificuldades, é fato que a Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto foi uma iniciativa abraçada pela cidade, que se identificou com o projeto e adotou o evento como um dos principais no calendário municipal. Os autores locais e nacionais se encantam com a qualidade do evento. 

É natural, também, que alguém critique o evento como um todo apenas por não ter conseguido ingresso para uma das apresentações mais concorridas. Às vezes, consideramos nosso umbigo o centro do mundo e desconsideramos o contexto.

Seja a Feira do Livro, seja qualquer outra iniciativa que busque fazer a diferença, temos, sempre, a depreciação como primeira resposta. Falar mal é sempre muito fácil. Difícil é refletir sobre como temos contribuído com o meio em que vivemos e com a cidade da qual fazemos parte.  

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