Que a falta de transparência faz

Que a falta de transparência faz

Assumir a Prefeitura de uma cidade do porte de Ribeirão Preto não é, imagino, tarefa fácil. Administrar uma cidade de quase 700 mil habitantes, principalmente depois de um período conturbado, não deve ser das tarefas mais tranquilas. Mas encarar o desafio, para mim, só poderia ser possível a partir de uma premissa: a transparência.

Ribeirão Preto tem, hoje, uma população desacreditada. Apura-se corrupção, sabe-se que há grandes problemas estruturais (e o visível asfalto de má qualidade é apenas um deles), mas ignora-se um conhecimento mais profundo sobre a cidade. Não há maneira melhor de a população contribuir com o desenvolvimento do município, do que entendendo suas necessidades e dificuldades.

Sempre acreditei na transparência como principal ferramenta para uma gestão compartilhada junto à população. Tenho para mim que se o cidadão conhece bem o lugar em que vive terá mais prazer em participar ativamente da construção da sociedade, usufruir de direitos e de aceitar deveres. Para o governo, é fundamental que os moradores saibam porque seus impostos custam o quanto custam e para onde vai o dinheiro. Em meio a tantos escândalos de corrupção que tomam o País, estou certa de que a divulgação clara sobre o emprego dos recursos chega a ser imprescindível.
O que tenho visto nesse início de gestão em Ribeirão Preto é que a administração ainda patina na suposta tentativa de ser transparente com a sociedade. É preciso dialogar mais, apresentar a real situação e mostrar que medidas estão sendo tomadas para consertar o que for preciso.

Penso que de nada adiantam discursos sobre a mudança e o novo se, no fim das contas, tudo continuar como a chamada velha política: funcionários contratados para uma função exercendo outra, reajustes de taxas impostos sem discussão ou explicação, mudanças na ordem dos pagamentos sem conversas com o Sindicato dos Sevidores.
Faz pouco mais de um mês que estamos sob nova gestão em Ribeirão Preto e a mais recente prova da falta de diálogo entre Executivo e Legislativo foi a anulação do reajuste da tarifa de água, proposta por decreto pela Prefeitura. Por unanimidade, a Câmara anulou a medida. Nem os vereadores da base partidária do prefeito souberam – ou se arriscaram a – defender o aumento. Antes disso, o Governo Municipal propôs, também por decreto, o reajuste da Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública (CIP). Foi preciso publicar duas vezes a mudança no Diário Oficial: uma acima da inflação, questionada pela reportagem da Revide, e outra com o índice correto.

Desalinhamentos como esses mostram o quanto o diálogo com a sociedade e entre poderes ainda é falho. É preciso que haja mudança, de fato, na forma de se fazer política e governar. É preciso que haja transparência. Comprometido será o futuro do governo que tentar se manter sem ela. 

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