Quem te importa de verdade?

Quem te importa de verdade?

Às vezes me pego pensando sobre as razões para certos encontros da vida e o que nos faz estar perto de quem estamos. Por que temos certos amigos e não outros? Por que, entre 7 bilhões de pessoas que vivem hoje no planeta, convivemos com uma dezena específica? Por que insistimos em certas relações, mesmo frente a constantes desentendimentos? Não seria tão mais fácil procurar um outro amigo, já que tem tanta gente por aí?

No meio de tudo isso, por que nos apegamos a tantos desentendimentos, também? Às vezes, fúteis e desnecessários. Não percebemos muito bem o quanto tudo isso pode ficar pesado, ou mais sério. Nesse sentido, uma frase do poeta francês Jacques Prévert é providencial “mais tarde será tarde demais: nossa vida é agora” (do original “plus tard il sera trop tard, notre vie c’est maintenant”). E já que devemos viver no tal agora, qual o motivo de insistirmos em tanto sofrimento no presente?

Difícil ter resposta a todas essas perguntas, mas passei a refletir sobre as relações que permeiam nossa vida. Fazemos algumas escolhas, mas, no fundo, temos muito pouco controle, ou nenhum, sobre a afetividade. Talvez seja aí que comece a confusão. Na semana passada, escrevi sobre a relação entre o que consideramos belo e a admiração. Para mim, condição fundamental para o afeto, também, é admirar o outro e ter por ele, ou ela, um respeito genuíno. E, uma vez estabelecido o sentimento, fica difícil racionalizar ou medir as relações com réguas e esquadros. Um sismógrafo, talvez, seja mais adequado.


A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida 
Vinícius de Moraes


Em alguns casos, movidos por sentimentos ou sensações que nem sempre são fáceis de explicar, optamos por nos dedicar a alguém que não retribui o afeto ou o cuidado na mesma intensidade em que oferecemos. Uma dessas frases compartilhadas aos montes nas redes sociais diz para não tratarmos como prioridade quem nos trata como opção. E isso acontece bastante.

Quantas vezes já nos submetemos a relações em que nos esforçamos intensamente por alguém e, em troca, não sentimos a mesma dedicação, ou o mesmo afeto? Até insistimos e podemos passar a vida nesse tipo de conexão desequilibrada, mas o cansaço pode aparecer. Cansa se esforçar pelo outro, sem esforço em troca. Cansa cuidar do outro, sem cuidado em troca. E é desse cansaço que surge o silêncio e, do silêncio, a distância.

Afinal, quem nos importa de verdade? Quem faz a diferença nos nossos dias e na nossa vida? Com quem vale a pena se desencontrar para se encontrar? Se você tiver pelo menos uma dessas respostas, o que posso te dizer é bem simples: jamais deixe que o silêncio ocupe um espaço que pode ser preenchido com o afeto.

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