Quer que eu volte em meia hora?

Quer que eu volte em meia hora?

Para esta edição, a Revide preparou um ensaio de fotos especial em comemoração ao Dia das Mães. Pelas lentes da fotógrafa Lidia Muradás, mães e filhos foram clicados em diferentes situações. A ideia do projeto foi retratar o cotidiano familiar, que, muitas vezes, passa despercebido por todos nós.

A complexidade do dia a dia e o excesso de tarefas nos afasta do contato pessoal e das relações familiares, às quais não nos atentamos tanto quanto deveríamos. Quantos de nós não sentamos à mesa com parentes ou amigos, mas prestamos atenção à tela do celular? 

O tempo que dedicamos às mensagens, às redes sociais, aos telefones tem me feito pensar sobre a efemeridade das relações cotidianas, sobre o cuidado que temos com o presente e o quanto vivenciamos cada momento.

Fato é que, nesses casos, ficamos distantes de quem está perto para nos aproximar de quem está longe. É como uma opção, que fazemos a todo instante, entre estar aqui ou estar lá. Evito ao máximo essa realidade. Quando estou com minha família ou com amigos próximos, evito tocar no celular, mas a verdade é que, mesmo lutando contra esse uso excessivo da tecnologia, eu mesma me torno refém. Procuro responder mensagens e atender ligações imprescindíveis, mas me mantenho longe das redes sociais quando estou junto de outras pessoas.
Quando alguém insiste em usar o celular em minha companhia, faço só uma pergunta: quer que eu volte em meia hora? Às vezes, é verdade, o feitiço volta contra o feiticeiro e também me questionam o mesmo comportamento. Tento usar a leveza para reforçar a importância da presença, da troca pessoal, dos momentos que podemos vivenciar junto do outro.

Não posso descartar o quanto a tecnologia tem facilitado o processo produtivo da Revide, por exemplo. Consigo olhar e aprovar páginas e matérias pelo celular, de onde eu estiver. Consigo acertar detalhes de um assunto, enquanto estou em uma reunião sobre outro projeto. As mesmas inovações que aproximam podem distanciar. É contra esse distanciamento pessoal que tenho travado uma árdua batalha.

Na yoga, que pratico há mais de seis anos, temos o momento da meditação, que nos faz ficar apenas em companhia de nós mesmos, sem atentar para cada pensamento que vem à mente. Não é fácil despistar cada ideia, cada problema, cada dúvida que surge nesses momentos. Não é fácil sentar e meditar sabendo que o celular, na bolsa, pode estar carregado de mensagens e de ligações. É um grande esforço manter a atenção plena — sozinho ou com o outro. Depois de muito tentar, praticar e insistir, ainda que tenha meus momentos de deslize, tenho convicção de que vale a pena. Minha dúvida é se durante a leitura deste texto você foi distraído pelo celular. Se foi, quer que eu volte em meia hora? 

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