Raro, mas duradouro

Raro, mas duradouro

Quando algo é raro, dizemos que é como o Cometa Halley, que aparece aos céus, em média, a cada 75 anos. A última vez que ele deu o ar da graça, inclusive, estávamos em 1986. E tão infrequente quanto essa aparição, foi o que o destino me reservou naquele mesmo ano, mais especificamente no dia 14 de julho. Uma oportunidade rara de construir uma trajetória a partir daquilo que sonhei, ainda na faculdade: a Revide.

Enquanto o Cometa Halley riscava a tranquilidade dos céus, no Brasil o momento era um tanto confuso. A década de 80 é lembrada pela redemocratização e por uma economia pouco produtiva, em razão da crise da dívida externa e do consequente pouco investimento do Estado.

Especialmente entre 1985 e 1990, o País vivenciou marcantes mudanças de rumo. Houve a morte de Tancredo Neves, a posse de José Sarney (um vice-presidente assumindo o comando do País), o movimento “Diretas Já”, que levou o povo às ruas pela volta da democracia, as inéditas eleições livres no Brasil e o primeiro presidente definido pelo voto direto popular, Fernando Collor de Mello. Tais conturbados anos 80 foram o berço da Revide.

De lá para cá, passaram-se mais de 30 anos e o projeto com que sonhei ainda na faculdade ganhou forma e virou realidade. A Revide se consolidou como um dos principais veículos de comunicação da região de Ribeirão Preto e, ao longo dessas três décadas, tem feito parte do cotidiano de muitas famílias. Às vezes, me pego pensando naqueles que ainda eram crianças quando começamos a trabalhar e hoje recebem a revista em casa. É uma felicidade tremenda saber que compartilhamos o crescimento de tanta gente. Poucas coisas na vida me dão tanta satisfação quanto perceber que, mesmo frente a tantos obstáculos para se empreender no Brasil, a Revide se estabeleceu no mercado com a confiança e a credibilidade dos leitores. E a cada um deles que nos acompanha, tenho imensa gratidão.

Mas fato é que aquela instabilidade dos anos 80 parece estar presente nos tempos atuais. Em pleno 2017, vivemos a incerteza do século classificado pelo sociólogo Sérgio Abranches como A “Era do Imprevisto”. Embora nos achemos muito sábios diante de tanta informação, sabemos muito pouco sobre os problemas e soluções que nos cercam. Difícil é, para todos nós, reconhecer essa ignorância.  

O mundo tem mudado a uma velocidade estarrecedora. Na própria Revide, vivenciamos as transformações mesclando as revistas impressas com nosso portal de notícias e todas as plataformas que utilizamos na comunicação digital. No jornalismo, paira sempre o questionamento: até quando resistirá o papel? A mim, segue a frequente dúvida: qual será o futuro da Revide?

Tenho convicção de que essas são perguntas que assombram jornalistas pelo mundo todo. Nossa comunicação é completamente outra, se comparada a de 30 anos atrás. Os repórteres conversam com entrevistados por e-mail e redes sociais. Não é mais preciso ir à rua, ou, sequer, fazer um telefonema. Fala-se, inclusive, na possibilidade de máquinas substituírem jornalistas. Já existem computadores desenvolvidos com a chamada Inteligência Artificial, capazes de construir textos a partir de dados compilados. Isso me parece assustador. Máquinas substituindo os homens em uma tarefa fundamentalmente humana, que sempre nos diferenciou das outras espécies: a capacidade de pensar, de ter consciência.

Qual seria, então, o futuro da comunicação? Enquanto a resposta não vem, todos nós, profissionais da área, seguimos elucubrando alternativas para sobreviver a tanta incerteza. Na Revide, posso garantir, lutaremos bravamente por mais tempo de jornalismo humano. Seja no papel ou em meios digitais, espero ter a alegria de seguir na ativa por mais muitos anos à frente desse projeto que tanto me satisfaz. Acredito profundamente que boas histórias ainda são a essência da atividade jornalística e emocionam em qualquer meio de comunicação.

Hoje, 31 anos depois da passagem daquele cometa, vivemos entre dúvidas, mas meu sentimento ainda é de muita alegria. Em tempos tão conturbados política e economicamente, comemorar mais de três décadas de história com uma empresa no Brasil é motivo de satisfação e orgulho. Estabelecer uma relação de confiança com milhares de leitores diariamente, então, é a razão de muita felicidade Obrigada a todos que nos ajudam a construir a história da Revide. Feliz 31 anos para todos nós! 

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