Rastro de uma eleição

Rastro de uma eleição

Durante as eleições deste ano, assisti à maioria dos debates e a quase todos os programas eleitorais. Política é um tema que me interessa e, mais precisamente de três anos para cá, passou a fazer parte de minha vida. Desde que me propus a ser secretaria municipal da Prefeitura de Ribeirão Preto, inicialmente como responsável pela pasta de Infraestrutura, pude aprender mais sobre a gestão pública. Tenho completo interesse em entender melhor como funcionam as relações entre a população e o poder público e quais as maneiras mais sustentáveis de se implantar um governo correto e decente.

Fato é que passo a ter dúvidas sobre a construção de um governo com ética a partir de campanhas eleitorais pautadas por uma intensa troca de farpas, baseada em argumentos baixos, nivelados pela tentativa de manipulação do eleitor. Percebemos que para manipular vale tudo. Vale até reduzir uma importante discussão sobre abastecimento de água a argumentos banais em um bate-boca eleitoreiro. 

Fico incomodada com o uso de eleitores como porta-vozes de propostas e representantes de comunidades que aparecem em propagandas para sustentar argumentos falhos de candidatos. Mais do que falarem nos programas eleitorais, os cidadãos precisam conhecer profundamente as propostas de cada candidato e entender aquilo que é discutido. 

Em 2014, na disputa nacional entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, dividiu-se o Brasil em azul e vermelho, com ataques de ambos e para ambos os lados. Assistimos a propagandas eleitorais que buscavam, mais do que propor melhorias ao país, a desconstrução do adversário, de heranças partidárias e de alianças políticas. Um debate cada vez mais empobrecido que reflete a desorganização do Brasil.

E tudo isso é reflexo de um cenário nacional de discórdia e descompasso entre poderes. Um país em que o presidente do Senado discute com o Poder Judiciário, porque um não sabe onde termina o poder do outro. Ou sabe e não quer respeitar. Temos um país confuso que se perde em responsabilidades, deveres e direitos que não convergem para o bem comum. Se perde em desrespeito.

Tenho convicção de que apenas teremos um governo justo e eficaz se houver transparência de ações. Se aprendi uma valiosa lição, enquanto funcionária pública, é que o morador da cidade precisa saber como atua seu governante. Isso sem falar no investimento, que precisa ser aplicado com responsabilidade e transparência, com resultados também certificados pelos moradores.

No meio de tudo isso, acredito que vale a observação do processo eleitoral como uma tarefa para entender mais sobre a confusão que paira sobre o País. Estamos desesperançosos e ficamos ainda mais quando falta transparência. Afinal, se a escolha de um governante já é tumultuada, pouco podemos esperar de seus governos.

Resta descobrir qual é o legado de cada processo eleitoral que passamos. Quem sabe aprendemos com ele e tentamos não incorrer nos mesmos erros. 

Compartilhar: