Reciclando ideias e atitudes

Reciclando ideias e atitudes

Ribeirão Preto adotou a coleta seletiva em 1991. Do total recolhido, apenas 1% vai para a reciclagem e somente 15% dos bairros são atendidos por este modelo.

Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” A célebre frase é de Antoine Laurent de Lavoisier, que viveu no século XVIII e ficou conhecido como o pai da química moderna. Entre suas descobertas está, por exemplo, a composição da água, até então entendida como um dos elementos terrestres primordiais, aqueles a partir dos quais todo o resto é composto. Também identificou e batizou o oxigênio e participou na reforma da nomenclatura química.A frase mais famosa do pesquisador parisiense, que tomo emprestada, aqui está relacionada a estudos sobre a conservação da matéria e foi imortalizada no imaginário popular. Para quem lida diretamente com a ciência, a máxima de Lavoisier certamente tem muitos significados fundamentais. A mim, que sou leiga no assunto, ela transporta diretamente para um tema bastante contemporâneo: a coleta seletiva e a reciclagem.

De fato, muito daquilo que compõe o lixo atual pode, e deve, ser reaproveitado. A começar pelos alimentos, por exemplo, visto que, no Brasil, inacreditáveis 30% da produção nacional acabam se perdendo no caminho até a mesa.  Depois deles, metais, papel, papelão, vidro, entre outros, podem ser reutilizados, inclusive como matéria-prima para a arte. Porém, para que isso seja possível, é preciso, primeiro, reciclar atitudes.

A importância de separar o lixo, de dar a ele a destinação correta e vê-lo transformado em renda e emprego para muita gente parece já estar claro no plano das ideias. Falta, agora, transportar tal raciocínio para a prática, como já acontece em muitas cidades mundo afora. Uma breve pesquisa me levou a conhecer o que acontece em De Bilt, no interior da Holanda, de 42 mil habitantes. Por lá, tudo é extremamente controlado, inclusive o lixo. A postura esperada, ou melhor, exigida de cada habitante está descrita no manual anualmente distribuído pela prefeitura da cidade: instruções para separação, regras para o descarte, entre outras. Os maiores fiscalizadores das atitudes de cada morador são, na verdade, os vizinhos.

Nesse sentido, os exemplos de ações que deram certo estão por todo o globo. Segundo um ranking divulgado pelo site Ecocidades, Islândia, Suécia, Canadá, Dinamarca e Estados Unidos possuem os municípios mais sustentáveis do planeta. A avaliação não considera apenas ações relacionadas ao lixo, mas diversas posturas que diminuem o impacto ambiental da urbanização e, portanto, garantem mais qualidade de vida aos habitantes. A capital paranaense, Curitiba, também figura entre as cidades que servem como modelo.

Porém, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer. Por aqui, a coleta seletiva ainda não é a realidade da maioria. Para se ter uma ideia, de acordo com um levantamento,  apenas 7% dos municípios têm programas de coleta seletiva (CEMPRE, 2008), o que significa aproximadamente 405 cidades, onde estão 26 milhões de habitantes — isto porque a ação é mais comum entre os grandes municípios. Mais uma vez, o Paraná tem o principal exemplo nacional, desta vez, Londrina, que atende 100% dos habitantes e faz a coleta ao custo mais baixo do país.

Ribeirão Preto, que adotou a coleta seletiva em 1991, ainda não está perto de chegar ao plano ideal. Do total recolhido, apenas 1% vai para a reciclagem e somente 15% dos bairros são atendidos por este modelo. Os problemas enfrentados por aqui não diferem muito do resto do país. Segundo especialistas, essas dificuldades passam pela informalidade da coleta, pela carência de soluções atreladas a uma visão social e pelo alto custo do processo.

É preciso intensificar os esforços que permitam a expansão desse trabalho, do qual depende a relação da sociedade com o meio ambiente. Nesse sentido, os gestores públicos, em todos os níveis, precisam se comprometer com a implantação de uma ação eficiente. Mas, como reforço a cada oportunidade, nada adiantaria sem a participação efetiva de cada cidadão, separando seu lixo e cobrando pela adesão de sua comunidade.

Isabel de Farias
Secretária de Infraestrutura e Coordenadora da Limpeza Urbana de Ribeirão Preto







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