Redescobrindo a literatura

Redescobrindo a literatura

Dia desses me bateu a vontade de reler dois livros de Machado de Assis: Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas. O primeiro já finalizei e o segundo estou prestes a terminar. Fiquei tão entusiasmada e tanto me encantei, novamente, pela literatura do autor, que decidi comprar todos os seus livros — alguns que eu nunca tinha lido. Foi aí que me veio a reflexão sobre o quanto não conhecemos a nossa literatura nacional e o quanto nos encantamos por obras estrangeiras sem lermos, primeiro, o que produzimos por aqui.

O Brasil tem grandes autores e conhecer melhor o que já foi ou é criado nessas terras é sinônimo de reconhecer nossa própria cultura e valorizar a literatura de nosso país. Talvez devamos, justamente, começar pelos grandes nomes históricos para compreender os caminhos de nossa cultura.

Machado de Assis, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Mario de Andrade, José de Alencar, Manoel Bandeira, Érico Veríssimo, Lima Barreto. São tantos nomes emblemáticos de nossa literatura que não faltam obras para se deleitar. E, em um período em que as mulheres ainda eram apagadas por uma sociedade machista, entre o fim do século XIX e o início do XX, escritoras como Cecília Meirelles, Cora Coralina, Rachel de Queiroz, Clarice Lispector e Hilda Hilst merecem ser lembradas e prestigiadas, não apenas pelos textos impressionantes, mas por terem quebrado barreiras.

Por que será que nos perdemos de nossas referências históricas da literatura? Fato é que com a comunicação digital e o excesso de informações, o mundo dos livros também se transformou e tem, a cada dia, mais títulos sendo lançados. Como escolher o que ler, entre tantos? O que priorizar? O clássico ou o novo?

Vivemos no país uma discussão constante sobre os clássicos da literatura, que, nas últimas semanas foi, inclusive, tema de debate no Twitter. Há quem defenda que tais títulos são muito rebuscados para que jovens iniciem essas leituras ainda na escola. A verdade é que são, realmente, linguagens mais complexas e (cada vez) menos usuais no dia a dia. No entanto, é aí que moram a nossa história e nossas principais referências. É a partir de obras como Dom Casmurro, Macunaíma, Vidas Secas, Os Sertões, que vemos um Brasil se construindo, uma sociedade emergindo e novos conceitos que surgiram, balizando, também, a produção literária que tem surgido desde então.

Há muitas novas obras que propõem debates atuais e reflexões contemporâneas, que valem ser lidas. Mas, que tal buscar a fundo nossas origens e ter contato com algumas preciosidades que já foram criadas aqui no Brasil? Para te convencer de que vale a pena, destaco um trecho de Machado de Assis.

“Nada se emenda bem nos livros confusos, mas tudo se pode meter nos livros omissos. Eu, quando leio algum desta outra casta, não me aflijo nunca. O que faço, em chegando ao fim, é cerrar os olhos e evocar todas as cousas que não achei nele. Quantas idéias finas me acodem então! Que de reflexões profundas! Os rios, as montanhas, as igrejas que não vi nas folhas lidas, todos me aparecem agora com as suas águas, as suas árvores, os seus altares, e os generais sacam das espadas que tinham ficado na bainha, e os clarins soltam as notas que dormiam no metal, e tudo marcha com uma alma imprevista que tudo se acha fora de um livro falho, leitor amigo. Assim preencho as lacunas alheias; assim podes também preencher as minhas” (Dom Casmurro). 

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