Sabedoria popular

Sabedoria popular

Impossível encontrar quem nunca busque nos ditos populares, consagrados pelo uso constante, as explicações ou justificativas mais claras para algum momento de vida. A lista é enorme e, certamente, aplicáveis às mais variadas situações. Eu, particularmente, acredito que, não fossem esses ditos carregados de uma boa dose de sabedoria, jamais teriam se tornado populares. Confesso que recorro com certa frequência a essas frases prontas quando busco respostas para meus questionamentos. E geralmente encontro, elas sempre estão disponíveis e acessíveis como as coisas mais simples da vida.

Hoje, parei para pensar na sequência de escolhas que fiz ao longo dos anos e cheguei à conclusão de que, muitos dos caminhos trilhados, mais até do que uma procura pessoal, foram definidos pelo surgimento de oportunidades, pouquíssimas vezes desperdiçadas. O acesso à faculdade acabou me trazendo a Ribeirão Preto, onde me encontrei; a criação de uma revista fez com que eu me descobrisse uma empreendedora; laços consolidados, especialmente na figura dos amigos, tornaram os dias mais suaves, e assim por diante.

Até que outra oportunidade, não imaginada até então, surgiu e me colocou novamente em busca de mim mesma e da capacidade de superação. Refiro-me ao mais recente e complexo desafio que decidi encarar: o trabalho público. Foi com este olhar, da oportunidade, que passei a considerar minha participação no poder público municipal, à frente de missões nada fáceis. No entanto, jamais teria me dado por satisfeita se tivesse me esquivado de pelo menos tentar. Arrependimento por ter tentado, nunca por ter recuado.

Talvez, o dito popular que mais ajude a explicar o momento em que aceitei a primeira missão é o ditado gaúcho que afirma que cavalo encilhado não costuma passar duas vezes. Ora, se eu, em algum momento, imaginei poder fazer alguma coisa em benefício da população e da cidade que me acolheram, por que não aproveitaria o convite exatamente como sendo esta chance de retribuir? De louca a corajosa, não restaram muitos adjetivos a que eu não tenha ouvido meu nome associado. Isso, claro, por parte dos amigos, de quem as opiniões sempre me interessam.

Pouco mais de um ano depois, continuo revisitando aquele momento para entender, eu mesma, todas as mudanças ocorridas desde que decidi tomar este bonde, até então desconhecido. Não me arrependo e sei que, de outra forma, não conseguiria lidar com o sentimento da frustração proveniente da tentativa abortada antes do tempo. Para isso, o que era conhecido até então — as certezas que me sustentam em todos os níveis — deixei nas mãos de pessoas mais do que queridas, mas nunca me distanciei a ponto de perdê-las de vista. E nem pretendo.

Existem pessoas e situações que são capazes de nos provocar a vontade de arriscar, de buscar novas possibilidades. Sinto cada vez mais que precisamos ter ouvidos e olhos renovados para perceber se vale a pena, se a oportunidade é um cavalo encilhado. O Lô Borges fez uma música que me diz muito sobre este sentimento. Trata-se de “A olho nu” que nos convida a deixar o velho cais e na distância ver a olho nu o que nos prende. Arriscar mesmo que isso nos faça sofrer. O músico diz “ com asa fechada ninguém voa, ...na falta de céu ninguém voa”.

Por enquanto, sigo com a certeza de ter feito a melhor escolha. Afinal, os leitores deste espaço, assim como quem me conhece de outros carnavais, já sabem muito bem que desafios, independentemente do tamanho, não me paralisam, mas estimulam a seguir adiante. Sigo em frente, portanto, aguardando as próximas oportunidades e criando trilhas nas direções que acredito serem mais adequadas. Tento, também, me manter pronta para reconhecer as próximas oportunidades, mesmo que elas não surjam na forma de um cavalo encilhado.

 

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