A saída dentro de nós

A saída dentro de nós

"A maneira como lidamos com o que frustra nossas expectativas e com quem nos rejeita diz muito sobre quem somos, da mesma forma acontece com nossas discordâncias”.

Pensei muito sobre esse texto do Mia Couto. É impressionante como estamos cada dia mais reféns da opinião dos outros. Cada vez mais se impõe um modo de vida em que os nossos sentimentos estão dependentes do olhar de quem está ao lado.

Penso que esse comportamento tenha se agravado com as tais redes sociais. É impressionante a busca por curtidas e o turbilhão de sentimentos desencadeados quando não há uma resposta como aquela que desejávamos. Se alguém não gostar da postagem, não comentar a foto, não fizer um elogio, a sensação é de derrota. Se mesmo aquela pessoa que não é muito querida faz um comentário positivo, o ego infla e o sentimento é de felicidade, de mais autoestima.

Fico impressionada também o caminho contrário. Como somos capazes de passar a não gostar de alguma pessoa por causa da intriga de outro. Poderia até parecer que isso só é possível para quem não tem posições firmes, mas eu pergunto: como nos livramos daqueles comentários fora do contexto, ouvidos e descritos por um bom amigo?

Sempre procurei me manter apartada das fofocas, do falatório. É uma postura que adotei ao longo da vida, até por achar que esse tipo de comportamento traz mais aborrecimentos do que qualquer sentimento positivo. Consegui, no meu dia a dia, evitar participar dessa propagação de boatos, do “diz que diz”, embora, às vezes, os comentários desencontrados surjam com uma força absurda.

Uma frase da Bíblia que sempre me marcou é “vigiai e orai”. Acho isso tão forte, porque vale para tudo na vida. Para aquela situação difícil, em que esta frase vai significar alívio, um respiro, uma avaliação mais distanciada para que tudo fique mais leve. Serve também para aqueles momentos em que a intriga te faz odiar aquela que era, há pouco tempo, uma pessoa de quem você até gostava. É um mundo de inconstância, uma vida cheia de momentos como esses. Por isso, tento buscar uma proteção interna, que encontro um pouco nesta frase bíblica.

Tem um outro ditado indígena que diz: “Dentro de mim, existem dois lobos: o lobo do ódio e o lobo do amor. Ambos disputam o poder sobre mim. E quando me perguntam qual lobo é vencedor, respondo: o que eu alimento”.
Na medida do possível, tento me alimentar de sentimentos mais proativos, mais positivos, mais Poliana — aquela menina que sempre tenta ver o lado bom das coisas.

Devo confessar que é difícil, muito sofrido até. O contraditório e a divergência vão te colocando frente a frente com o ódio com muita facilidade, até por conta desse momento conturbado que vivemos, em tempos atuais tormentosos e incertos. Tenho tentado me manter em estado de alerta no que diz respeito a essas questões. Viver bem ainda deve ser a nossa melhor resposta. Mesmo que solitariamente, é preciso encontrar um lugar de conforto dentro de nós mesmos. Não há saída fora de nós. 

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