Samba-enredo de oportunidade

Samba-enredo de oportunidade

Fala-se tanto em maior expectativa de vida e na longevidade como grandes aliadas dos nossos tempos atuais, que é preciso se perguntar, vez ou outra, o que, realmente, significa esse prazo maior que podemos conquistar. Parece bobagem, mas, acredite, ele pode fazer toda a diferença. 

Pensei sobre isso ao assistir, pela internet, a uma pequena palestra do empresário Abílio Diniz, no Ted Talks, realizada em maio. O título é bem sugestivo: “Comecei a fazer 80 anos com 29”. Decerto, serviu como uma luva a mim, que há muito me preocupo com a saúde. Procuro manter uma alimentação saudável, pratico exercícios físicos e busco formas de relaxamento e cuidados com o corpo que possam me manter minimamente saudável, enquanto o tempo passa. 

Uma das frases de Abílio que me chamou a atenção, e que faz todo o sentido, diz respeito à maneira como decidimos levar a vida: “envelhecer é uma certeza, envelhecer bem é uma escolha”. É fato que não há formas de fugir do passar do tempo e precisamos, fundamentalmente, de resiliência para seguir entre altos e baixos e tantos imprevistos que nos são apresentados dia sim, o outro também.

Com esse raciocínio, certos de que queremos viver mais e melhor, muitos estão tomando algumas atitudes extras, que, antes, nem eram pensadas. Algumas décadas atrás, chegar aos 50 anos era sinônimo de estar perto da morte. Hoje, posso atestar, é uma idade que rende oportunidades e ainda há muita lenha para queimar nessa etapa da vida. Dá para ir à academia, correr, relaxar e trabalhar muito. Temos energia para isso. Ficamos mais velhos, mas também mais experientes e prontos para estabelecer – e atingir – novas metas.



Com tanta gente envelhecendo bem, é certo que um país pode se aproveitar de tanta mão de obra e de indivíduos que possam contribuir com o desenvolvimento da sociedade. A população ativa, considerada dos 15 aos 64 anos, pode estar bem saudável e expandir a força de trabalho. O chamado “bônus demográfico”, fenômeno pelo qual todos os países ricos já passaram, acontece quando essa faixa etária cresce acima da média da população total. Afinal, mais gente firme e forte no trabalho é igual a mais crescimento econômico, mais oportunidade, uma nação mais próxima.  

O problema é que, caso não haja planejamento público, o tal bônus não será aproveitado e o fenômeno, que não deve acontecer novamente, pode ser uma grande oportunidade perdida para o crescimento do país. E é o caso do Brasil. Estamos envelhecendo mais, com menos qualidade no ensino dos mais jovens. O resultado são recém-formados sem capacitação e menos produtividade no mercado, com consequente baixo número de contribuintes em idade economicamente ativa para um número crescente de dependentes dessa força de trabalho. As dificuldades começam a surgir quando se observa o rombo na previdência, por exemplo, que dificilmente será revertido, a menos que exista uma intervenção nevrálgica. 

Investir na educação e formar cidadãos não é algo que se acelera. Não é possível queimar etapas e colocar velocidade a processos que, naturalmente, levam tempo. É como o desfile de uma escola de samba, que tem um tempo cronometrado para acontecer: todos nós já vimos a última ala correndo para deixar a avenida antes de estourar o limite. A grande diferença é que em um governo e na organização de um país, as implicações do timing equivocado são muito maiores do que alguns décimos perdidos na nota final. Eles podem definir o que seremos no futuro – uma nação próspera, ou aquela que deixou passar a única oportunidade de um século. 

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