Sem confrontos

Sem confrontos

Em meio a tantas dificuldades que insistem em aparecer, sempre volto a dizer: parece cada vez mais difícil manter o bom humor. O clima generalizado de desesperança persiste em nos colocar para baixo e em nos fazer perder o otimismo.

Diante de tanta instabilidade política, financeira e moral no país, precisamos, a todo momento, remar contra as más notícias e o desânimo. Repito constantemente sobre minhas tentativas de levar a vida de um jeito semelhante ao da Poliana, aquela garota que sempre tenta olhar o lado bom das coisas, em um otimismo, às vezes, até exagerado.

Ainda assim, tentando me manter para cima na maior parte do tempo, não é raro ficar irritada. Os problemas, eventualmente, aparecem. A cada imprevisto, uma nova retomada, uma correção de rota, uma mudança no caminho. Essa atividade diária de superar obstáculos — que poderia ser considerada uma arte, já que nos requer tanta versatilidade — me fez refletir sobre o mau humor que carregamos, alimentando, vez ou outra, sentimentos ruins com relação às outras pessoas.

Irritados, com os nervos à flor da pele, contaminados por tantas más notícias, carregamos a intolerância para todos os lados. No meio de tudo isso, uma palavra atravessada, um comportamento equivocado, uma brincadeira mal colocada e até um silêncio descabido podem ser estopins de desentendimentos maiores e grandes discussões.

É claro que há momentos em que existem motivos para a discórdia. Não é apenas o clima ruim ou o mau humor. Seres humanos discutem e divergem. São descompassos naturais, até porque estabelecer relações pessoais não é tarefa fácil. É comum, mas requer cuidado, afeto, atenção e, principalmente, paciência.

Os conflitos aparecem, mas é importante nos mantermos serenos para que não se transformem em confrontos. O filósofo Mario Sergio Cortella, em suas palestras e em livros, explica a diferença entre esses dois conceitos. Como ele define, conflito é a diferença de posturas, enquanto o confronto é a tentativa de anular a outra parte. Precisamos de conflitos, que enriquecem nosso conhecimento e aumentam nossa capacidade de análise, mas sem confrontos, os duros embates que desgastam sem levar a lugar algum.

Quando tudo parece ruir, quando os conflitos beiram o confronto — e isso tem me acontecido —, tento me fiar no que considero importante. Agarro-me às coisas boas e ao pouco que me dá prazer diariamente. Corro, leio, tomo uma boa taça de vinho e me apego ao que me faz feliz. É como dizem: mar calmo nunca fez bom marinheiro. Diante de tanta instabilidade, equilibrar-se no chacoalhar da vida não é opção: é obrigação. 

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