Sem tempo para pensar

Sem tempo para pensar

"Matar um leão por dia” talvez seja a expressão que melhor define o cotidiano de cada trabalhador no nosso país. A necessidade de estar sempre tapando buracos e dando conta de uma série de problemas que surgem à frente é imperativa no mundo profissional. São poucos, nesse contexto, que conseguem desempenhar funções específicas e destinadas a objetivos claros. Em geral, estamos sempre chafurdados em uma série de atividades que surgem no cumprir da rotina e passamos a nos atentar ao que não era o objetivo inicial.

Sem dúvida, o ideal seria que nada fugisse do script. Que os dias corressem com naturalidade, da forma como planejamos, sem imprevistos, e que tivéssemos tempo para pensar sobre tudo aquilo que precisamos fazer no trabalho. Só que a verdade é que, no meio de tanta correria, sobra pouco espaço para a reflexão e o planejamento — e algumas competências ficam comprometidas.

Já ouvi diversos estudiosos do rendimento profissional em seminários, palestras, e também li sobre os mistérios do desempenho. É fato que estamos em pleno processo de mudança, com um modelo mais flexível de carga horária, rendimento e resultados nas empresas. As formas de cobrança estão mudando e os modelos de organização também. Apesar disso, refletindo sobre o tema, tenho para mim que seja necessária uma consideração importante: a maioria dos resultados de estudos e pesquisas que temos sobre o assunto provém de outros países, especialmente os Estados Unidos, e não podemos relegar nossas diferenças.

Em nosso país, é difícil não apagar incêndios se você quer prosperar nos negócios e ter sucesso. Quando me graduei em Jornalismo, tinha o desejo de sair às ruas e escrever grandes reportagens. Inclusive, quando dei início ao projeto da Revide, tinha como meta estar na redação e produzir conteúdo. Com o passar dos anos, com a mudança do formato da nossa publicação e com a necessidade de ter alguém para conduzir outras frentes da empresa, precisei me distanciar do que queria de fato para assumir responsabilidades diferentes, que não eram bem meu interesse primordial. Aprendi outras habilidades e passei a administrar tarefas que até então não eram meu forte.

Ainda hoje, depois de mais de 30 anos na condução da Revide, preciso me dividir entre funções distintas e participar ativamente de quase todos os departamentos. E não faço isso porque sou diferente dos outros: qualquer empreendedor que lute para prosperar em um país tão incerto precisa se dedicar ao máximo à empresa. Só assim é possível crescer e resistir.

Infelizmente, é difícil dedicar-se à parte estratégica sem participar da operacionalização. Os bons gestores e que têm boas ideias, na quase totalidade, também têm capacidade de conduzir a parte prática. Esses profissionais são atropelados por demandas que crescem o tempo todo e que precisam ser atendidas. 

Estamos, sim, todos atropelados pela velocidade do mundo moderno e pelas necessidades que nos assolam. Mas, enquanto não houver tempo para pensar, poucas serão as possibilidades que teremos de inovar. 

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