Sobre flores e gestão

Sobre flores e gestão

Na Avenida Professor João Fiúsa, próximo à rotatória com a Avenida Wladimir Meirelles, há, no canteiro central, um pequeno jardim colorido. As flores são mantidas por moradores e pela administração do Edifício Jataí, que fica bem em frente à plantação.

Frequentemente, passo pela avenida e avisto o jardim. Sempre me encantei com aquele colorido no meio da via. Embora de porte pequeno, o cenário sempre me agradou.

Dia desses, um amigo me enviou uma mensagem, pois havia sido informado que aquele jardim teria de ser extinto. Após uma denúncia anônima, a Prefeitura havia contatado a administração do edifício e pedido para que dessem um fim à plantação.

A reportagem do Portal Revide entrou em contato com a administração para saber o que de fato estava acontecendo, quais seriam as irregularidades e o que poderia ser feito. Questionado, o governo municipal informou, por meio da Divisão de Praças e Parques, que, de fato, havia uma denúncia contra o jardim. A Coordenadoria de Limpeza Urbana disse que as intervenções realizadas pelos moradores ali não tiveram autorização da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e, por isso, a plantação é caracterizada como ilegal. A Prefeitura afirmou, ainda, que as árvores ali plantadas não estão de acordo com o projeto paisagístico da avenida, além de os pneus e as flores interferirem no aspecto visual do local.

A repercussão da notícia, que em um primeiro olhar poderia não parecer impactante, foi enorme nas redes sociais. Muitos moradores de Ribeirão Preto se incomodaram com a postura da administração municipal em propor o fim daquele jardim tão bem cuidado por moradores. As críticas foram em todos os sentidos, mas especialmente no fato de a prefeitura se ater a algo tão pequeno diante da imensidão dos problemas que existem na cidade.

Não há como discordar que todos os municípios devem, sim, possuir um projeto paisagístico e algumas diretrizes que sejam seguidas. Isso faz parte da organização e de um planejamento administrativo, o que é fundamental. O que chama a atenção, neste caso, não é a Prefeitura reforçar a necessidade de um modelo de paisagem correto que deve ser seguido. É o fato de a cidade estar completamente desorganizada e fechando as portas para as ações populares.

Quando vejo uma iniciativa como essa, de moradores que se preocupam minimamente com o lugar onde vivem, renovo meu estoque de esperança em uma gestão compartilhada e na possibilidade de unir os cidadãos em torno de um projeto comum de sociedade.

Por outro lado, confesso que me desanimo com a falta de diálogo e com a falta de prioridades do governo municipal. É preciso, sim, estabelecer regras e leis, mas também é preciso avaliar o contexto de cada determinação e obrigação.
Já é hora de a Prefeitura de Ribeirão Preto estreitar os laços com quem vive na cidade. Propor ações conjuntas, permitir a intervenção de cidadãos que contribuam com o município mesmo que com pequenos gestos.

Ainda que haja a necessidade de seguir diretrizes, é momento de flexibilizar e construir projetos que envolvam os moradores, buscando denominadores comuns em prol de um bem a todos.

A iniciativa das flores no canteiro central nos dá um norte: ações colaborativas e diálogo entre poder público e cidadão podem ser ferramentas importantes para a gestão do futuro. Espero que cheguemos lá. 

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