Sobre hábitos relevantes

Sobre hábitos relevantes

Aproveitei o último feriado para relaxar e descansar um pouco. Quem me conhece sabe que é difícil que eu deixe o celular de lado, sem responder e-mails, ou pensar e mandar ideias de novos projetos e pautas para meus parceiros mais próximos. A maneira como cada um de nós administra as rotinas e vive a vida é muito particular e eu me acostumei, desde muito jovem, a tocar uma rotina muito ativa, com a cabeça sempre a mil. 

Mesmo vivendo dessa maneira, sei que é preciso e muito saudável dar um descanso para o corpo e a mente. Buscar alternativas para contemporizar os desgastes e a rotina intensa. Ainda que eu tenha muito prazer no meu trabalho, é fato que alguns momentos de relaxamento são imprescindíveis e precisam constar em nossa lista de atividades. Para mim, no entanto, todas essas opções, acima de qualquer outra qualidade, precisam ter algum significado e encontrei alguns hábitos que fazem sentido em minha vida. A ida semanal à missa é um deles.


“A admiração é uma sutil surpresa da alma que a leva a considerar com atenção os objetos que lhe parecem raros e extraordinários”
René Descartes, em As paixões da alma



Desde criança, ir à igreja era obrigação da família. Lembro até hoje do ambiente. Como são fortes as memórias afetivas! Quando sinto o cheiro de incenso utilizado no turíbulo nas missas, aos domingos, parece que ainda tenho sete anos de idade. No significado do ato, a fumaça que sobe aos céus significa que aquele momento celebrativo é elevado a Deus, com nossas intenções e orações. Claro que não era o programa favorito de uma criança, mas o ritual sempre me encantou e guardei uma enorme afetividade por ele.

Passaram-se anos e me afastei desse hábito. Tive aquela fase de discutir os dogmas da igreja, de confrontar o real sentido daquela celebração. Algum tempo atrás, porém, decidi retomar a rotina da reza semanal, na missa da Catedral Metropolitana. Isso se tornou parte fundamental do meu domingo e uma rotina que me faz muito bem. Quando quis voltar, tive a certeza de que foi aquele sentimento, da minha infância, que brotava dentro de mim e que me fez retomar um antigo hábito. 

Só que nesse fim de semana, em viagem de descanso, não fui à missa e pensei o quanto esse hábito tem um efeito calmante, revelador e até catártico. Se, nos primórdios, os homens buscavam sentido na existência nos mitos e na natureza, hoje ainda buscamos algo que faça sentido e que traga valor as nossas vidas. É claro que respeito muito quem não precisa da fé, da crença em algo, para achar sentido na vida, e que leva uma existência com muita tranquilidade, mesmo sem o apego a qualquer força superior. Eu, no entanto, descobri o quanto esse hábito é relevante e a diferença que faz em meus dias.

É fundamental um momento que tenha significado em nossos dias, algo que nos prenda a atenção e que nos renove o desejo e o anseio pela vida. Com tanta dificuldade, tantos desencontros e tantas más notícias que insistem em rodar por aí, tenho a certeza de que só os nossos escapes mais genuínos é que podem fazer a diferença. São pequenas maneiras de ser feliz, em um mundo tão infeliz e cada dia mais cheio de desesperança. É estar atento ao que nos faz bem e olhar com cuidado tudo aquilo que traz mais importância aos nossos dias. 

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