Solitude

Solitude

É super normal desabafar com algum amigo quando algo não vai bem. Quando a maré toda, então, está desfavorável, é ainda mais comum reclamar, compartilhar dores e sofrimentos, abrir a caixa de intimidades com quem a gente gosta.

Apesar de passar por muitos dissabores na vida, uma de minhas maiores dificuldades é conversar e expor todos os meus problemas para quem está perto de mim, por mais querida que seja a pessoa e por maior importância que tenha em minha vida. Às vezes, quando começo a despejar meus problemas em alguma conversa, logo tenho um forte sentimento de culpa. Na maioria das vezes, penso que, em vez de me queixar sobre o que tenho vivido, devo é tomar alguma atitude para mudar a realidade e não deixar o baixo astral ganhar espaço.

Já me disseram que eu deveria sair mais, falar mais, interagir mais, compartilhar mais. Aliás, fazemos isso, né? Damos muitas ideias ao outro, sem saber exatamente como ele sente ou o que ele realmente gostaria de fazer. Pensamos que o que funciona para nós, também pode funcionar para quem está do lado. A intenção é sempre boa, mas, em alguns casos, tão importante quanto sugerir uma saída é tentar entender qual seria o melhor caminho naquele caso específico. Cada um reage de uma maneira às intempéries da vida.

Eu, por exemplo, sinto prazer e tranquilidade quando estou sozinha. Pode parecer estranho, mas, a mim, esse é o tipo de atitude que mais faz bem. Gosto de desfrutar de alguns dos meus dias de descanso dentro de casa, lendo, assistindo a séries ou vendo filmes. Às vezes, também gosto de fazer alguns programas específicos: comer pão de queijo em uma tal cafeteria do centro, passar uns dias em Minas Gerais (um dos meus lugares preferidos no mundo) ou fazer atividades físicas.

Na maioria das ocasiões, as atividades que escolho e que mais gosto de fazer são privadas, que muita gente confunde com solidão. Talvez até por isso muitos insistam em me tirar de casa e me fazer ter uma vida social mais ativa. A verdade é que podemos encontrar o prazer em pequenas coisas, que nem sempre são as mesmas fontes de contentamento dos outros.

Existe, inclusive, um termo que define esse estado de privacidade de uma pessoa, não ligado ao sofrimento, mas até a um certo prazer: solitude. É aquele momento introspectivo que alguns, como eu, gostam de vivenciar.

Tenho alguns poucos e queridos amigos com quem gosto de compartilhar as agruras da vida, vez ou outra. Gosto de estar acompanhada para provar um vinho, sentar em algum restaurante ou ir ao cinema. Gosto de ter uma boa conversa em uma mesa de bar. Também aprecio dosar cada um desses momentos.

Optar por estar sozinha e negar algum convite não é necessariamente sinônimo de aversão aos outros programas. É mais uma opção por aquilo que me faz bem. Não tenho dúvidas de que todos nós precisamos encontrar os nossos melhores pontos de fuga nesses tempos tão tormentosos, buscando pequenos prazeres que podem nos ajudar a ter uma vida mais leve, seja na companhia de bons amigos ou desfrutando da solitude. 

Imagem: Automat de Edward Hopper,1927

Compartilhar: