Tagarelice

Tagarelice

De onde será que vem a enorme necessidade de falar sobre os outros? Esses dias me peguei pensando sobre a quantidade de tempo perdido comentando a vida alheia, palpitando sobre quem está do lado, dando pitacos.

Uma vez li um livro do historiador Leandro Karnal chamado “A detração: um breve ensaio sobre o maldizer”, que aborda, justamente, o hábito de se falar mal dos outros. Até comentei sobre ele nesta coluna, em outro momento. Novamente, refleti sobre a necessidade geral de falar sobre o próximo e, em muitas vezes, diminuí-lo, criticá-lo.

De formação católica, desde pequena vou à igreja. Lembro de ser um hábito semanal ter a roupa do domingo separada para ir à missa. Até hoje conservo o costume de ir à Catedral uma vez por semana.

Sempre busquei me ater aos ensinamentos católicos para viver uma vida de bem. Perdoar, relevar alguma maldade e ignorar as fofocas nem sempre é fácil – e pode ser até muito difícil em diversas situações. Fato é que a cada vez que consigo me comportar polidamente diante de algum problema, fico me sentindo bem, sinto uma evolução interna e um avanço pessoal.

Acredito profundamente, porém, que não é necessário estar na igreja ou ser religioso para praticar o bom senso, o companheirismo, e evitar falar mal dos outros pelas costas.

A tagarelice é prejudicial à saúde. Prejudica os tagarelas e as vítimas dos comentários. Em um ambiente de trabalho, por exemplo, a fofoca pode ser extremamente nociva e tóxica, contaminando muita gente ao redor. Pode causar prejuízos inestimáveis.

Talvez por ter uma grande aversão à fofoca e à tagarelice, sempre mantive poucos amigos próximos ao longo de minha vida – e sempre procurei me distanciar daqueles que falam demais. Mesmo estando 30 anos à frente de um veículo de comunicação consolidado na região e tendo tido uma experiência na vida política, como secretária municipal por quase dois anos, procurei, ao longo de todo esse período profissional, preservar minha vida pessoal o máximo possível. Certa ou errada, essa foi minha decisão lá atrás, que sustento com tranquilidade nos dias de hoje.

Claro que ser discreta não me impediu de ser alvo de comentários preconceituosos ou irreais, justamente por conta da vida pública. Tenho para mim que a discrição me ajudou a minimizar esses entraves. O que o ser humano mais quer é saber o que falam dele pelas costas. É natural que nos incomodemos com comentários alheios e que queiramos saber o que dizem sobre nós. Mas, ao mesmo tempo, preservar a dignidade e a privacidade é fundamental em tempos de superexposição nas redes sociais.

O que aprendi ao longo da vida é a prestar bastante atenção em quem escolho para compartilhar angústias, dividir intimidades ou revelar segredos. Talvez esse seja um bom conselho, empírico, a deixar. Não diga tudo sobre você a qualquer um. Prefira a discrição. Isso não inibe a fofoca ou o maldizer, mas pelo menos não te reduz ao patamar dos tagarelas. 

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