Transparência e  interlocução

Transparência e interlocução

 

Não é de hoje que o papel da imprensa na sociedade gera debates. Inúmeros cientistas políticos, filósofos, sociólogos, políticos, juristas, artistas e pensadores, os mais diversos, já buscaram analisar os impactos da relação entre público e mídias. É lugar comum que a opinião pública seja o agente passivo desta convivência — volúvel e altamente sensível à manipulação.

Como jornalista, compartilho a ideia de alguns estudiosos que defendem que a imprensa deve manter a preocupação social como um dos focos de sua atividade primeira. Por mais ingênua que pareça, esta crença íntima norteou a concepção de um veículo de comunicação impresso diferenciado para Ribeirão Preto, a começar pelo nome, Revide, escolhido a partir de um texto de Viriato Correa, que representava o espírito contestador estudantil de 28 anos atrás: “Um homem não é para ser chicoteado, covardemente, miseravelmente, sem um revide, sem um gesto qualquer de vingança...”.

Os esforços para manter no mercado, por quase três décadas, um produto editorial como esse me mostrou, como empresária da comunicação, no entanto, ser mais do que possível e necessário estabelecer o diálogo franco e aberto entre o interesse social e o comercial. Como me ensinou o tempo, a sustentabilidade não está baseada na dicotomia desses conceitos, mas na parceria e na transparência entre eles. Um sentido mais amplo, pouco explorado e bastante criticado, inclusive, mas que funciona.

Justamente esta fórmula, percebo agora, sob um novo ângulo de visão, poderia fazer enorme diferença às relações da mídia com o poder público e, consequentemente, sobre a real tarefa de contribuir para a formação da opinião pública. No entanto, o interesse de informar tem, muitas vezes, sido substituído por uma espécie de maledicência instituída, porém dissimulada, e a qual não me abstenho de ter feito coro como jornalista. Em muitos momentos, de fato, é mais fácil apontar os problemas a serem resolvidos e ponto final. Não há, nem mesmo na intenção, a preocupação de conhecer a realidade do setor público, as barreiras impostas pela burocracia e por tantos outros meandros.

Do alto da minha inexperiência, fui também traída pelo desconhecimento da máquina pública e pelo excesso de vontade quando, ao ingressar na nova função, imaginei ser possível tapar os mais de 4 mil buracos do município. Como empresária, a solução parecia bem próxima: angariar os recursos, encontrar os parceiros e executar as obras. Mas no papel de secretária, deparei-me com demandas ainda maiores, nunca imaginadas como empreendedora ou como jornalista. Em um ano, fizemos mais do que isso e ainda assim não conseguimos suprir as necessidades do Município.  

De volta aos dois personagens centrais desta reflexão, entre imprensa e poder público costumam imperar a “obrigação de responder e do prazo a cumprir”, de um lado, e a “vitimização e o medo da distorção”, do outro. Nesta disputa insalubre, perde, mais uma vez, o público, consumidor passivo da desinformação ou do joguete de inverdades, meias ou falsas verdades. Mas apenas agora, ao experimentar todos os lados deste triângulo, consigo dimensionar claramente as dificuldades inerentes à execução de cada um desses papeis e a importância — mais do que isso, a urgência — de uma reestruturação capaz de estabelecer de vez a comunicação entre esses agentes.

Para isso, o segredo, na minha visão, está em dois pilares: a transparência e a interlocução. É a verdade como elemento principal da comunicação entre administração e imprensa que pode garantir uma relação saudável entre os dois lados. As opiniões podem divergir, ora ou outra até mesmo se opor, mas o caminho a ser trilhado pela imprensa e pelo poder público precisa ser o do entendimento, da humildade para reconhecer as próprias falhas, quando acontecem, e também o elogio para os acertos, que também são mais frequentes do que parecem. Antes disso, no entanto, é preciso estabelecer uma comunicação efetiva, uma verdadeira ponte entre esses dois universos que, apesar de parecerem antagônicos, deveriam ser complementares.

 

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