Tríplice cidadania

Tríplice cidadania

A combinação entre comunidade, poder público e iniciativa privada é a receita para a transformação que queremos ver, como constataram os moradores da vila paulistana.

Não faz muito tempo, chegou até mim a história de um certo Aragão. Segundo relatos, este homem, com sua iniciativa e desejo de mudança, havia sido capaz de modificar a cena urbana da vila onde morava, localizada na Zona Leste paulistana. Interessada, fui investigar a história desse cidadão e me vi diante de um grande exemplo de cidadania.
O homem é Ionilton Aragão e o local, a Villa Nossa Senhora Aparecida. Registros mais antigos dão conta de uma comunidade marcada pelo abandono. O perigo a violência e a sujeira eram comumente atribuídos ao bairro, que também não contava com infraestrutura básica. A urbanização chegou até lá na década de 1980, com esgoto, asfalto e iluminação, mas não foi suficiente para adicionar adjetivos positivos ao local. Em muito, isso acontecia por causa da aparente sujeira espalhada por cada rua, mas principalmente em uma espécie de rotatória, que acabava sendo o depósito de toda sorte de dejetos, de resíduos de construção a “bagulhos”, como reforçou Aragão, de toda natureza.

Diante desse cenário, a maioria de nós seria capaz apenas de deixar-se tomar pelo desânimo e, na melhor das hipóteses, trabalhar para encontrar outra região para viver. Mas essa não foi a escolha daquele líder comunitário, que decidiu buscar apoio para levar mais qualidade de vida não só à sua família, mas a uma comunidade inteira. Para isso, contou com a ajuda da Prefeitura de São Paulo e da iniciativa privada, mas foi o envolvimento comunitário que fez a maior diferença. Como uma formiguinha, iniciou um trabalho educativo e convocou a participação de todos os interessados em viver em um ambiente mais limpo e humano. Conseguiu a instalação de lixeiras e a inserção da Vila na rota das empresas responsáveis pela limpeza urbana. 

Em pouco tempo, o cenário estava transformado. As ruas já não mais acumulavam o lixo antes tão comum e a rotatória, que não só era motivo de vergonha para os moradores do entorno como também responsável pela proliferação de problemas de saúde, ganhou cara nova. A limpeza da comunidade, conhecida como uma das mais limpas de São Paulo, também foi responsável pela geração de empregos para os locais, que assumiram a responsabilidade pela varrição e outras atividades do gênero. 

Na continuação do projeto Varre Villa, Aragão ajudou a transformar aquele ponto central em um local de encontro da comunidade e uma referência de lazer e cultura. Hoje, circula pelo Brasil inteiro contando sobre sua iniciativa e estimulando esta prática nos municípios por onde passa. Depois de conhecê-lo pessoalmente, no dia 30 de maio, quando esteve em Ribeirão Preto para um encontro com líderes comunitários e presidentes de associações de bairro ribeirãopretanos, tenho certeza que ele conseguirá ir além. A visita ocorreu por intermédio da Prefeitura, através da Secretaria de Infraestrutura e da Coordenadoria de Limpeza Urbana, e da Estre, que apoiou a reunião no Palácio Rio Branco. A palestra daquele cidadão de fala tranquila, mas cheia de energia, foi extremamente inspiradora.

O exemplo do Varre Villa e de Ionilton Aragão, que conheci na última semana, só reforçam o que defendo há muitos anos, especialmente desde que passei de observadora a cidadã atuante na vida pública da cidade: a maior força transformadora está justamente na combinação entre comunidade, poder público e iniciativa privada. Esta tríplice união de interesses, não é segredo, é a receita para a transformação que queremos ver, como constataram os moradores da Vila Nossa Senhora Aparecida. Um exemplo como este tem grande valor e não pode ser ignorado. 

Isabel de Farias
Secretária de Infraestrutura e Coordenadora da Limpeza Urbana de Ribeirão Preto

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