Tudo é tão desigual

Tudo é tão desigual

Li na edição de domingo, 17 de setembro, do jornal Folha de S. Paulo, um artigo da socióloga e educadora Maria Alice Setubal sobre a questão das desigualdades da nossa sociedade. O artigo se chama “Construir cidadania num país de privilégios” e só o título já diz muito sobre um tema tão complexo.

Um texto lúcido, muito bem fundamentado e que nos obriga a uma reflexão sobre o que podemos objetivamente fazer para mudar essa realidade tão desconcertante. Nessa mesma edição, o editorial do jornal tratou do mesmo assunto.

A publicação mostra que somos um país cronicamente desigual. São dados que comprovam que pouco se reduziu na vergonhosa desigualdade social do nosso país nas últimas décadas. Os estudos feitos pelo instituto dirigido pelo economista Thomas Piketty colocam por terra a afirmação de que nos últimos anos tenha diminuído a distância entre pobres e ricos por conta da expansão da economia e dos programas de assistência social.

A despeito destes números, devo confessar que senti, entre os anos de 2008 e 2013, uma mudança no mercado. Senti isso na minha empresa e na minha vida pessoal. Um sentimento de esperança, com a sensação de que a economia iria realmente melhorar. É certo que esse crescimento não teve sustentabilidade e que a recessão dos últimos três anos mostrou que aquele crescimento não tinha as bases necessárias para que tivéssemos uma vida mais justa.

Um gráfico interessante nesta página nos mostra como está a concentração de renda no nosso país. Um dos grandes questionamentos que sempre me fiz foi como essa enorme distância em nosso extrato social pode ser tão perversa. A falta de oportunidades, a procura por alguma perspectiva de colocação no mercado de quem não teve condições de estudar numa boa escola, uma alimentação que assegure a mínima qualidade de vida, a luta por um atendimento e uma saúde decente... enfim, tudo que a nossa Constituição nos garante como necessidade primeira de todo e qualquer cidadão. Quando penso que essa mesma Constituição cidadã completa 30 anos em 2018, fico desanimada ao perceber o quanto pouco avançamos na luta por um maior equilíbrio em nosso país. Vivemos em uma democracia ainda fragilizada por tantos casos de corrupção justamente na esfera que teria de zelar pelo bem público: os políticos. Difícil ter esperança.

Há algumas colocações que a Maria Alice faz no texto que julgo importante estarem na pauta dos nossos próximos governantes. Ela começa dizendo que “somos uma nação que naturalizou as desigualdades”. Afirma que “desigualdade em excesso corrói o tecido social, a coesão entre os indivíduos e o espaço público, abre frentes para o crime organizado, compromete o crescimento sustentável e o futuro do país”.

Com certeza, todas as pessoas que pensam o nosso país se preocupam com essa banalização do mal, essa indiferença com a pobreza e as necessidades do outro. A ordem é pensar em si próprio: se minha vida está boa, pouco me importa como está a minha cidade, o meu estado ou o meu país.

Ela propõe aquilo que também acredito: só com uma participação efetiva de cada um de nós é que conseguiremos vencer as iniquidades da nossa sociedade. A socióloga propõe algo simples, que é agir junto à nossa família e ao nosso grupo. É nesses ambientes que, inicialmente, a discussão precisa avançar. É preciso construir novas bases para um diálogo e que ele avance sobre o desânimo e a tristeza. É preciso que cada um de nós influencie uma agenda mais justa e a favor de todos. Será que conseguimos? 

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