Um homem visionário

Um homem visionário

Na edição em que comemoramos os 35 anos da Revide, resolvi falar de uma pessoa que, de alguma maneira, simboliza o mesmo sentido de luta que trago em mim com o projeto da revista. No dia 6 de setembro, noticiamos a morte de João Carlos Figueiredo Ferraz. Eu tive a oportunidade de conversar com ele algumas vezes, não posso dizer que éramos amigos, mas eu admirava o grande conhecimento e o amor que ele tinha pelo mundo das artes. Fizemos algumas matérias com ele na revista em algumas das mais de mil edições que produzimos no decorrer desses anos. Na edição de agosto de 2011, fizemos uma reportagem de capa que tratava sobre a inauguração do Instituto Figueiredo Ferraz, espaço que ele planejou por uma década, onde iria disponibilizar a sua coleção particular de obras de arte contemporânea de padrão internacional para a visitação do público. 

Nós admiramos nas pessoas aquilo que mais nos toca de maneira particular. Ele foi um homem que teve um sonho e uma crença de que poderia mudar a vida das pessoas com o que escolheu fazer na vida. Queria que aquele espaço formasse novos olhares, novos gostos e conhecimento pelo mundo da arte. Naquela matéria de capa ele declarou: “é impossível gostar de uma coisa que não se conhece. Acho que o contato, a aproximação, é que cria novos apreciadores”. Ele conseguiu ao longo de 10 anos, trazer inúmeras exposições, abriu o seu espaço para crianças da rede pública de ensino, promoveu palestras, cursos, fez muitas ações em favor da cultura da nossa cidade, deixou um legado maravilhoso para toda uma geração que nunca teria acesso a esse tipo de arte.

Na matéria, ele comentava que o papel da arte era tornar a vida mais bonita, questionar, rever conceitos e preconceitos, que é preciso se preparar para olhar diferente. João Carlos acreditou naquilo que mais conhecia e acho que também amava. Bancou o seu sonho e fez um dos lugares mais diferenciados da nossa cidade, tornou a arte contemporânea acessível a um número maior de pessoas.

Em uma entrevista conduzida pelo professor Carlos Alberto Regalo, também publicada na revista, perguntado sobre se o Instituto fora feito para que ele deixasse um legado, ele respondeu que não. “Foi apenas a maneira que encontrei de me satisfazer, enquanto estou vivo. Devemos pensar no nosso tempo, enquanto respiramos... Procuro fazer tudo que me dá prazer, que me estimula, que torna a minha vida mais gostosa”, declarou. Espero que este legado seja preservado pela família, pelos amigos, pelos admiradores da sua coragem e luta e que esses 10 anos de vida do Instituto que leva o seu nome perdure por muitas gerações. Que saibamos honrar a memória de um homem que soube questionar, pensar, amar e enxergar a beleza da arte. 

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