Um país desencantado

Um país desencantado

Acompanho a vida política e econômica do país por dever de ofício. Como preciso saber o que acontece no mundo político e também sobre as decisões econômicas que possam impactar o negócio que eu trabalho, estou sempre lendo e procurando me informar bem sobre estes assuntos. Mas entendo o quando é desgastante e desanimador para um cidadão comum acompanhar a política e a economia no Brasil. Temos vivido uma calma relativa quando pensamos no Brasil da inflação galopante, da instabilidade política, dos planos econômicos mirabolantes que tiraram o sossego da população.

Mesmo com essa ilusória calmaria, fica a impressão que sempre seremos aquele país que o escritor austríaco Stefan Zweig retratou no seu livro: “Brasil, o país do futuro” em 1941. Depois de tanto tempo, a obra ainda surpreende pela riqueza dos temas abordados, pela observação minuciosa que o autor fez dos hábitos da nossa cultura, do retrato de um país grandioso que não consegue chegar ao seu destino de prosperidade.

A sensação é que não conseguimos sair das cordas, a luta política se apequenou de tal maneira que de sobressalto em sobressalto vivenciamos anos após anos, décadas perdidas de desenvolvimento humano e econômico num país que tem tudo para ser uma potência e um case em todas as áreas, mas que não sai do lugar ou pior ainda, teima em andar para trás. Para elencar algumas das surpresas dos últimos dias, o Ministério da Ciência e Tecnologia perdeu quase 90% do orçamento, cerca de 600 milhões foram remanejados para outros ministérios, por solicitação do Ministério da Economia, em um momento em que a ciência e a tecnologia seriam caminhos para a nossa redenção.  Não se consegue achar um caminho para uma proteção mínima aos que mais sofreram com essa pandemia: cerca de 40 milhões de brasileiros vivendo em condições desumanas: sem renda, sem emprego, sem saúde e sem educação.

Fico pensando: aonde erramos? Por que tanta dificuldade em acharmos um caminho decente para o nosso povo? Numa reportagem publicada na Folha de S. Paulo em junho deste ano, uma pesquisa mostrava que cerca de 50 milhões de jovens brasileiros entre 15 e 29 anos estão decepcionados com o país, não têm perspectiva de trabalho e estão insatisfeitos com a condução do país. O número que mais assusta é que 47% desses jovens brasileiros querem ir embora do país. Que país do futuro é esse? 

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