Uma andorinha não faz verão

Uma andorinha não faz verão

Seguindo ainda na linha dos ditos populares, gostaria de compartilhar uma experiência. Logo que entrei no serviço público, já um pouco assustada com a morosidade dos processos e também com a apatia, que de uma certa maneira acompanha as pessoas que estão há bastante tempo trabalhando no mesmo local — incluindo aí o mesmo sentimento na iniciativa privada — ouvi de uma pessoa que uma andorinha só não faz verão. Óbvio que observei naquele comentário uma tentativa de me desestimular, por conta da minha euforia, da minha vontade de trabalhar.

O tempo foi passando e eu realmente comprovava que, por mais vontade que tivesse para executar um trabalho eficiente, era necessário ter mais pessoas com um sentimento pelo menos parecido. Vi que precisava encontrar algo que me tirasse daquele estado de aprisionamento e logo, vislumbrei um caminho: se uma andorinha não faz verão, eu precisava ter mais andorinhas para começar o processo de mudança.

Parando de reclamar e começando a perguntar, a buscar estas pessoas, tive uma grata surpresa ao notar que elas existem, um pouco cansadas e desestimuladas, mas estavam lá. Hoje, eu posso garantir que enquanto não montamos equipes com o pensamento – não igual – e o mesmo  objetivo na busca das soluções, ficaremos sempre andando em círculos.

Vi que as pessoas criam seus escudos de proteção, vão tecendo barreiras quase impermeáveis que, para serem quebradas, necessitam de muita paciência. É preciso tentar reestabelecer novos vínculos de confiança. Parece que este estado de apatia vai fazendo que com que estejam sempre à espreita, na busca de algo que não é bom, que não seja produtivo. A desconfiança é capaz de romper qualquer vínculo, impedindo a interação entre as pessoas, a vivência da afetividade.

Quando pesquisamos melhor o ditado, Aristóteles descreve, na sua obra “Etica a Nicômano”, que uma andorinha só não faz primavera. O sentido empregado era o da migração à procura de clima mais favorável para a sobrevivência, o que não difere muito do que senti quando precisei buscar com os colegas de trabalho para empreendermos juntos as mudanças que eu conseguia vislumbrar neste novo desafio. Em grupo fica mais fácil buscar os caminhos que podem levar às mudanças, pois só unindo esforços somos capazes de realização.

Da minha experiência profissional como jornalista, a essência do bom desenvolvimento do nosso trabalho sempre foi aquele compartilhado por vários profissionais: o texto precisa de uma bela foto e também de uma boa diagramação. Cada uma das etapas realizadas pela equipe é que fará a boa reportagem que vai cumprir o papel de informar o leitor.

Desde sempre acredito que a autossuficiência é inimiga de bons resultados. O espírito de solidariedade, na minha opinião, deve prevalecer nas relações interpessoais; ações isoladas, inevitavelmente, levam ao fracasso.

No serviço público, esta experiência e vivência têm sido muito decisivas no meu desempenho. Hoje, já não me sinto uma andorinha sozinha. Penso que um dos propósitos da nossa vida é tentarmos passar adiante o que aprendemos. Nada é mais importante do que isso. Se me perguntam o que fazer com o conhecimento acumulado, digo sempre: passe adiante.

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