Uma questão de desconhecimento

Uma questão de desconhecimento

A política é um tema recorrente nos veículos de comunicação no mundo inteiro. No Brasil, não é diferente: o que acontece no cenário político está sempre ali, exposto aos leitores ou telespectadores. Nem sempre depois de uma apuração extremamente cuidadosa, como deveria, graças, entre outros fatores, aos prazos desumanos com que lidam os jornalistas por inúmeros motivos. Parêntese feito em defesa aos colegas de profissão, é preciso dizer que, apesar de se tratar de um assunto recorrente, a política é, na verdade, uma famigerada desconhecida da maioria das pessoas, que aprendeu a entender que sua participação nessa área é apenas o voto, compulsório por aqui. Assim, por obrigação, cumpre seu dever de votar de dois em dois anos. Muitos leitores podem, agora, estar torcendo o nariz para essa colocação, mas, infelizmente, na prática, é assim mesmo que acontece.

Para tentar contribuir para o esclarecimento da Política — assim mesmo, com “p” maiúsculo — o escritor carioca João Ubaldo Ribeiro publicou o ensaio “Política: quem manda, por que manda, como manda”, em 1981. Na obra, tenta organizar algumas ideias sobre o assunto, ilustrando que política pode ser entendida como arte, ciência, filosofia e também profissão: “(...) a Política terminou por tornar-se uma profissão, a profissão dos que se dedicam a influenciar, de diversas maneiras e em vários níveis, a condução da coletividade em que vivem, seja por iniciativa própria, seja representando outros interesses”, define João Ubaldo, que faleceu no ano passado e também era jornalista, cronista, roteirista e professor. Como continua o escritor, é possível fugir da Política, mas tal atitude não nos torna seres “apolíticos”, como muitos gostam de se intitular. Tal postura, na verdade, reforçaria a continuidade prática da política com a qual não se concorda, criando um ciclo pouco produtivo graças às parcas mudanças verificadas na cena brasileira nessa área.

Nesse sentido, concordo com as colocações de João Ubaldo, feitas há mais de 30 anos, mas que se aplicam perfeitamente ao envolvimento do brasileiro com a política no século XXI. Apesar das manifestações que tomaram as ruas do Brasil em algumas ocasiões nos últimos anos, as pessoas ainda não mostram um conhecimento de causa por trás de suas reivindicações. Na minha modesta leitura, parece, muitas vezes, que o barulho é mais importante do que a reivindicação em si. Muitos dos pedidos que se ouvem ecoar, aliás, têm pouco ou nenhum vínculo com a coletividade.

O que me traz à memória um outro livro, escrito em parceria pelos filósofos Renato Janine Ribeiro e Mário Sérgio Cortella, “Política: para não ser idiota”. Segundo os autores, o título da obra, lançada em 2010, é uma provocação ao público que se relaciona à origem da palavra “idiota”: em grego, essa palavra representa aquela pessoa que estaria confinada a si mesmo, apenas preocupada com a vida pessoal. Ele seria o antagonista do político, cujo papel é, justamente, dedicar-se ao todo, ao conjunto, ao coletivo.

Unindo os dois pensamentos, imagino que seja possível chegar a um bom conceito sobre política, que merece ser mais difundido entre os cidadãos brasileiros em geral. Se a política é uma arte, ciência, filosofia e profissão da qual não se pode se isentar — já que a própria isenção seria um ato político — então, direcionar o olhar para o todo, e não apenas para a vida pessoal, pode ser a melhor, se não a única, saída. Nesse sentido, buscar conhecimento para, aí sim, posicionar-se politicamente pode se mostrar um bom segundo passo nessa caminhada.

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