Uma questão de percepção

Uma questão de percepção

Raro encontrar quem não tenha a percepção de que o tempo está passando rapidamente. Parece que os dias não são suficientes para fazer tudo o que precisamos fazer e temos a impressão de que as horas correm em um ritmo mais veloz do que algum tempo atrás.

Há teses que justificam essa percepção mais acelerada: o avanço da tecnologia, o excesso de atividades com as quais preenchemos a rotina e a perspectiva que temos de nosso tempo. Quanto mais velhos ficamos, menos expectativa de vida temos e esse arrocho poderia nos dar a sensação de que tudo está corrido.

Essa última tese corre pela filosofia e é baseada nos estudos de Paul Janet. Segundo o filósofo, quando estamos adultos, a percepção de um ano é uma pequena fração de tudo o que vivemos na vida. Para uma criança, o mesmo período representaria um período mais longo e, portanto, mais abrangente de sua existência.


“Só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã. Portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver” 
Dalai Lama


A teoria é contestada e até caiu por terra, diante do contraponto feito por pesquisadores que não acreditam que o cérebro humano tenha um raciocínio cotidiano que abranja a tal perspectiva do que temos pela frente diante daquilo que já vivemos.

Surge, então, uma outra ideia que também é utilizada para justificar a tal passagem mais rápida dos dias e que tem a ver com a qualidade de nossas experiências. Quando novos, somos submetidos a uma série de “primeiras vezes”. O mundo ainda tem um certo ineditismo que nos faz prestar a atenção e viver mais intensamente, nos permitindo guardar, inclusive, memórias mais consistentes durante a vida. Conforme envelhecemos, passamos a tratar o que nos acontece como algo mais corriqueiro, como parte da rotina, e vemos a vida com menos brilho nos olhos. Perdemos a curiosidade e a animação a cada tarefa que temos de desempenhar ou a cada momento, bom e ruim, que vivenciamos.

Tese vai, tese vem, a verdade é que não existe, ainda, uma justificativa comprovada sobre essa percepção de uma passagem mais rápida do tempo. É cientificamente constatado que o planeta Terra está, de fato, girando de forma mais veloz. Só que essa alteração é tão pequena, mas tão pequena, que não poderíamos utilizar como desculpa.
O ideal, então, é não criar ou usar explicações para essa sensação que acomete tanta gente, em todo o mundo. O melhor que podemos fazer, já que não temos como mudar o ritmo do tempo, é aproveitar os instantes vividos.

Uma das práticas que incentiva a concentração no presente e a atenção plena ao que vivemos em cada momento é conhecida como “mindfulness”, uma espécie de meditação que propõe aos adeptos a concentração “no aqui e no agora”. Uma alternativa para termos foco no que experimentamos na vida e, quem sabe, aproveitar mais intensamente cada instante desse tempo que insiste em passar cada vez mais rápido. Essa pode ser uma possibilidade, mesmo que não aplicada de forma disciplinada todos os dias. Um caminho para estarmos mais atentos a nós mesmos e ao que presenciamos ou fazemos. Menos celular enquanto estamos com os amigos, mais conversa e olho no olho. Menos redes sociais nas horas vagas, mais passeio pela cidade.

Clichê? Talvez. Mas, alguém aí tem uma ideia melhor? 

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