Uma questão humana

Uma questão humana

Não é preciso ter olhos muito sensíveis para, ao menos, se impactar com as imagens da operação realizada pela Prefeitura de São Paulo na Cracolândia, durante esta semana. Os noticiários reproduziram, exaustivamente, os depoimentos e as queixas de pessoas que viviam em prédios demolidos pela administração municipal da Capital. As demolições aconteceram com gente dentro das casas. Houve feridos e há desabrigados. Quem foi retirado daquela região de São Paulo vagou pelas ruas. Um posto de combustíveis chegou a ficar repleto de dependentes químicos que não tinham para onde ir. Uma praça na região virou ponto de refúgio. Para onde vão essas pessoas?

São Paulo está a 319 quilômetros de Ribeirão Preto. São estradas que separam as duas cidades, mas que, guardadas as devidas proporções, preservam a mesma realidade, que reflete o Brasil. Basta frequentar a região conhecida como “baixada”, próxima à rodoviária. Não raro e não surpreendente, encontram-se ali andarilhos, pessoas em situação de rua que passam dias e noites sem abrigo, sem emprego, sem comida e sem oportunidades.

Embora queiramos fechar os nossos olhos para o problema em Ribeirão Preto e acreditar que as mazelas estão apenas na capital, a marginalização cresceu. Cada dia mais cedo, jovens encontram no crime um caminho para a subsistência e para realizar os sonhos em uma sociedade ditada pelo consumo. Na última semana, por exemplo, o Portal Revide noticiou o caso de um jovem de 16 anos que foi detido por tráfico de drogas. Ele foi liberado, sob custódia da mãe. Antes de sair da delegacia, disse aos policiais que continuará traficando até os 18 anos, para poder comprar roupas.

Os números comprovam a violência e o crime como alternativas cada vez mais frequentes em uma cidade que insiste em ignorar a desigualdade. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado, só no primeiro trimestre deste ano foram 197 roubos de veículos e 2.524 furtos variados. Sair de casa é, cada dia mais, uma experiência em que também é preciso contar com a sorte.

Parece que resolvemos fechar os olhos para esse tipo de problema em Ribeirão Preto. Fato é que, embora hajam iniciativas como a criação do Gabinete Metropolitano de Segurança, pouco pode ser feito quando construímos a sociedade sobre as bases equivocadas. Falta educação, falta oportunidade, falta olhar ao próximo e faltam políticas públicas que integrem – ou reintegrem – as pessoas à cidade à qual pertencem. A realidade está aí. Combatê-la não é mais uma questão de escolha. É uma questão humana. 

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