Vaivém pelas calçadas

Vaivém pelas calçadas

A construção dos novos caminhos, seja pelas calçadas ou por outros espaços, precisa ser compartilhada por cada um.

Andar pelas calçadas de Ribeirão Preto é uma verdadeira aventura. Pisos estourados, calçamentos de todos os tipos, como concretos e pedras de todas as naturezas, bloquetes, lajotas e uma profusão de outros revestimentos se misturam na tentativa de permitir que o pedestre possa andar pela cidade tranquilamente. Pior do que isso, a falta de cuidado com as calçadas pode causar acidentes e quedas com consequências nada simples, tanto para a saúde do acidentado quanto para o responsável pela manutenção do local.

Pode-se afirmar que a legislação sobre o assunto é ultrapassada e não funciona. A responsabilidade, tanto da construção quanto da manutenção, é do munícipe, mas parece não haver uma sintonia entre aquilo que é regra e a prática. No caso ribeirãopretano, que segue o modelo brasileiro, estão estipuladas algumas determinações como largura e inclinação das calçadas, tipo de revestimento permitido, implantação de rampas, entre outras. Dentro dos critérios estabelecidos, o responsável pelo imóvel define o calçamento que deseja.

Mas nem é preciso buscar detalhes legais para saber que muitas calçadas estão longe do ideal. Ainda é possível verificar degraus em áreas de inclinação acentuada, revestimentos que não garantem aderência e espaços tão estreitos que não permitem a passagem de parte dos pedestres, especialmente daqueles que utilizam uma cadeira de rodas para se locomover. Rampas e sinalização são difíceis de encontrar em muitas calçadas — quando não está ausente a própria via para pedestres, que não tem opção a não ser arriscar-se pelo espaço reservado à circulação de veículos.

Caminhando pelo outro lado, seria injusto não dizer que há uma série de bons exemplos por aí. Alguns trechos de ruas e de avenidas tornam a caminhada mais prazerosa ou, no mínimo, mais digna para os cidadãos. Em vez de exceções, esses locais deveriam ser a regra quando o assunto é o passeio público. É preciso começar a planejar desde hoje de que forma será possível atingir esse objetivo.

Penso que o primeiro passo é sempre o conhecimento. Cada cidadão precisa saber que deve ter participação ativa na transformação das calçadas da sua rua, do seu bairro e, por fim, do seu município. Práticas cidadãs, que começam dentro e em frente a nossa própria casa, são as únicas ações capazes de mudar o cenário atual, em todos os níveis e sentidos. Dito isso, é preciso refletir se o modelo seguido atualmente é o caminho mais curto para se construir as vias de pedestres pretendidas. Há formas de facilitar a vida dos munícipes a fim de envolvê-los nesse processo? Vale pensar em uma forma de padronização para as calçadas — se sim, em que nível? Já que existe uma legislação sobre o assunto, seria a fiscalização a melhor alternativa para corrigir minimamente esse problema?

Quando se analisa a situação da infraestrutura urbana, torna-se inevitável a comparação com outras cidades e outros países. Se outras localidades conseguiram bons resultados com planejamento, por que não se pode fazer o mesmo por aqui? Será que projetar calçadas com um mínimo de segurança e de acessibilidade é algo tão difícil de ser alcançado? Além desses, há inúmeros questionamentos possíveis. Creio que essa discussão tenha sido relegada por muitos anos, mas chegou a hora de retomar o debate. A construção dos novos caminhos, seja pelas calçadas ou por outros espaços, precisa ser compartilhada por cada um de nós. No final das contas, as melhorias alcançadas beneficiarão a todos. 

Isabel de Farias
Secretária de Infraestrutura e Coordenadora da Limpeza Urbana de Ribeirão Preto

 

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