Às vezes me calo

Às vezes me calo

Vou à missa todos os domingos. É um hábito que carrego desde pequena e me lembro como se fosse hoje — ainda que tenham se passado bons anos desde minha infância. Quando eu ainda era menina, via minha mãe separar a roupa que eu usaria no domingo, dia em que frequentávamos à igreja. Me vestia e íamos rezar. Desde pequena me acostumei com essa rotina e, com o passar dos anos, mantive o costume.

Para mim, domingo sem ir à igreja não é domingo. Quando preciso, em razão de algum compromisso, abortar essa prática, sinto-me incompleta, como se algo não estivesse certo. Virou parte de mim. Faz bem e me preenche.

Sou católica, mas não quero defender aqui a minha religião. Respeito profundamente todos os credos e as crenças. Acredito que todos nós precisamos encontrar alento naquilo que nos faça a diferença, que nos motive durante nossa jornada. Acreditar em um ser superior, buscar explicações e ajuda nos momentos de grandes questionamentos pode nos fazer muito bem.

Nesses tempos difíceis que insistem em não terminar, tenho pensado muito sobre o esforço que fazemos, a rotina intensa e desesperada que pouco nos permite parar, pensar, pedir e agradecer àquele — ou àquilo — em que acreditamos. Estamos o tempo todo ativos, já planejando o que vamos fazer no próximo minuto, querendo ganhar o mundo em poucos segundos. Vivemos em uma sociedade que prega a riqueza antes dos 30 anos. Hoje em dia, é sonho de consumo se tornar empresário, criar uma startup, abrir o próprio negócio. Grande parte dos mais jovens, que iniciam a vida profissional, já não querem chefes. Muitos querem ser o próprio patrão, fazer o próprio horário, estabelecer os próprios limites.

Fato é que nos acostumamos a atropelar tudo: atropelar o tempo, o outro, as oportunidades, a vida. Criamos uma rotina acelerada e nos tornamos reféns do corre-corre.  No meio de tanto desespero e ansiedade, de tantos problemas para serem resolvidos, onde foi parar o silêncio?

Tenho cada vez mais convicção de  que buscar o alento no que acreditamos é tão importante quanto erguer as mangas e partir para o trabalho duro. Não falar, não pensar, não agir e parar. Parar por alguns momentos e se sentir mais próximo daquilo em que se acredita. Pode ser Deus ou não. Pode ser a missa aos domingos ou não. Precisamos ter fé naquilo que acreditamos para reduzir o peso nas costas.

É claro que isso não significa cruzar os braços e esperar que alguma força divina surja em um clarão com a solução para os problemas. Buscar o alento em nossa crença e em nossa fé é compartilhar com algum ser superior as nossas angústias, dificuldades, tristezas e dilemas. É refletir diante de tantos mistérios da vida.

“Por que isso acontece comigo?”, “Por que não consigo resolver meu problema?”, “Por que nada tem dado certo?”. Quantas vezes já não nos fizemos esses questionamentos?

Às vezes, em meio a tantos “porquês” que refletem infindáveis incertezas, calo-me. Rezo, peço, sonho. Entrego meus problemas na mão de Deus, mas não deixo apenas com Ele a responsabilidade de solução. Peço ajuda e seguimos juntos. 

Podemos não chegar aonde imaginei, mas eu certamente não atravessaria tantos obstáculos sozinha. 

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