A vida que se leva

A vida que se leva

Existem duas datas de que eu gosto muito: o dia do meu aniversário e o período entre Natal e Ano Novo. Acho que esses dois momentos dizem muito sobre esperança, renovação e novos dias.

No caso do aniversário, acho que tem muito a ver com a relação que estabelecemos conosco. Elaboramos o balanço do que fizemos e de como estivemos durante os 365 dias anteriores. É aquele momento mais íntimo, de meditação interna. Já sobre as datas de fim de ano, penso que dizem respeito à nossa relação com o outro, a maneira como interagimos com o próximo. Como tudo isso ocorreu. 

Nos dois casos, sempre me vem à cabeça que são tempos propícios a uma reflexão mais profunda, mas também a ocasião perfeita para dar início a mudanças, novos planos e abrir o coração para experiências inéditas.

Podem parecer apenas dias no calendário, datas soltas, convenções sociais. A verdade é que, ainda assim, esse período sempre me provoca um sentimento de avaliação e de projeção para novas perspectivas.

Este ano de 2017, como reiteradas vezes comentei, foi difícil e não deu muito espaço para sermos esperançosos. É raro encontrar alguém que não tenha tido vontade de deixar nosso país, pela certeza de que todo o sistema político está realmente corrompido. 

Em um desses encontros fortuitos que a vida nos oferece, ouvi de uma querida amiga que, quando morou fora do Brasil, a trabalho, chegou a receber uma oferta para continuar a viver em terras estrangeiras. Naquele momento, ela sentiu algo que na França se chama “dépayesement”, uma expressão sem tradução literal para o português. Algo como saudade, o sentimento de alguma coisa fora do lugar. É aquela sensação de não pertencimento a um espaço, a um momento.

Embora não seja uma sensação tão agradável assim, acho natural termos essa impressão, algumas vezes, ao longo da vida. Podemos nos sentir como um peixe fora d’água dentro de um emprego que não nos satisfaz, um relacionamento desgastado, uma rotina sufocante.

Posso confessar que durante 2017 me senti dessa maneira, algumas vezes, mas tenho a inexplicável capacidade de buscar a regeneração diante das dificuldades. Trago isso desde pequena, um jeito Poliana de viver – embora muitas vezes pareça impossível encontrar alguma saída entre tantos labirintos.

Ainda entre os altos e baixos do ano — ou da vida —, sigo firme nestas minhas últimas linhas de reflexões em 2017. Ao contrário do que possa parecer pelo rumo deste texto, não me falta esperança para continuar lutando e enfrentando qualquer tristeza que apareça em meu caminho. Dias difíceis aparecem, mas eles, eventualmente, chegam ao fim.

Carrego em mim uma crença firme e constante de que possuímos o melhor. Temos a vida e essa precisa ser cuidada, porque é curta e rara. Cada momento, cada gesto, cada companhia, cada alegria vale a pena. Por tudo isso, vale continuar em busca das superações e dos momentos positivos.

Que, no ano que vem, continuemos firmes diante de cada entrevero. Que tenhamos energia para superar as dificuldades que vêm pela frente e que tenhamos bons momentos ao lado daqueles que amamos. Que façamos nossos dias serem melhores, porque estou certa de que isso é possível. Afinal, no fundo, é o que dizem: a gente leva da vida a vida que a gente leva. Que venha 2018! E, com ele, uma boa vida para se levar. 

Compartilhar: