Afinal, como anda o rock?

Afinal, como anda o rock?

Estive na Livraria Cultura nesta quinta-feira, dia 9, para um bate-papo sobre música, na presença de Guilherme ABC Ishie e Leandro Novo – ambos envolvidos em questões culturais/musicais.

O “ABC” é da Press Start – Arte e Entretenimento e Leandro Novo é vocalista da banda Sakrah.

Nos reunimos para debater sobre o tema “O rock evoluiu, aposentou ou morreu?”

Pra não ficar naquele impasse do “acho que sim” ou “acho que não” durante o debate, pesquisei as mídias difusoras de conteúdo para tentar entender os "gostos do consumidor".

Mídias convencionais (Televisão e Rádio) vs Mídias alternativas (Internet)

Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015, divulgada no final de 2014, pela Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal, a preferência dos brasileiros pela televisão e rádio ainda supera a internet.

Embora o estudo tenha revelado que os brasileiros passam mais tempo conectados à internet (em média 5 horas por dia) que na frente da TV (média de 4h31 por dia), a esmagadora quantia de 93% dos entrevistados revelou que ainda preferem a televisão.

Na lista de preferência nacional o rádio é citado por 46% dos brasileiros, superando a preferência pelo ambiente virtual: que tem 42% das citações.

Ainda assim, a internet está em crescimento: o percentual de pessoas que se conectam todos os dias subiu de 26% para 37% em 2014.

Deixando a TV de lado e analisando somente o Rádio e a Internet, como “fornecedores” de conteúdo, chamo a atenção para o seguinte dado:

- Dos 42% que preferem a internet como mídia, 67% buscam nela diversão e entretenimento (cabe aqui o “consumo” de música), enquanto, dentre os 46% dos brasileiros que preferem o rádio, 62% o ligam em busca de entretenimento. Neste ponto a internet sai vencedora, pois, os seus usuários a procuram em busca de entretenimento (e basta os roqueiros se aproveitarem deste dado).

Top 100 da Billboard Brasil – As mais tocadas no Brasil: Onde o Rock não tem vez!

Sabendo então que os brasileiros gostam mais de rádio, busquei pelos artistas mais tocados em 2014 e 2015, segundo a Brasil Hot 100, da Billboard Brasil.

A lista é feita a partir de dados coletados pela empresa Crowley Broadcast Analysis (CBA), especializada em monitoramento eletrônico de rádio, fundada em 1997.

A empresa monitora a grade básica de mais de 350 emissoras em 14 cidades brasileiras desde 2009. Nos dois últimos anos a lista Brasil Hot 100, divulgada semanalmente, teve somente músicas dos gêneros: sertanejo e pop/funk brasileiros e alguns representantes da música pop internacional.

As dez primeiras posições da lista desta semana são:


1º - Suíte 14 (Henrique e Diego com o MC Guimê)
2º - Mudando de Assunto – Henrique e Juliano
3º - Agora (Bruno e Marrone)
4º - Escreve aí (Luan Santana)
5º - Hoje eu to terrível (Cristiano Araújo)
6º - Toca um João Mineiro e Marciado (Jads e Jadson)
7º - Vai Vendo (Lucas Lucco)
8º - Amiga Linda (João Bosco e Vinícius)
9º - Você Mente (Zé Felipe)
10º - Então Foge (Marcos e Belutti)

Apenas um representante do “rock” configura entre os 100 mais tocados no Brasil: o Skank, na 71ª posição, com a música “Esquecimento”.

Voltando ao eixo central da discussão – o Rock evoluiu, aposentou ou morreu? – podemos analisar o seguinte: o que notamos no cenário musical nos últimos 10 anos foi um processo migratório das bandas de rock que deixaram de lado o interesse pelo aporte das grandes gravadoras para se tornarem “bandas independentes”, que, inclusive, é citado como um estilo musical dentro do Rock.

É um processo simples:
sem grandes gravadoras não há o famoso jabá pago às rádios para tocarem as músicas de certos artistas.

Opinião

Na opinião de Edgard Scandurra, guitarrista do Ira!, que me enviou sua opinião por e-mail, o que acontece é um sufocamento do rock por parte da tão comercial “mídia convencional”. “O rock está vivo, numa pequena célula da juventude, à procura de agressividade, elegância e criatividade que estão ofuscadas pela medíocre realidade que vivemos hoje“.

Beto Bruno, vocalista do Cachorro Grande, não só compartilha da opinião do Scandurra como cita algumas bandas que ele acredita ser bons representantes do rock em terras brasileiras. “Bandas como Vivendo do Ócio, Boogarins e O Terno estão por aí, fazendo música de qualidade”. Para o vocalista o importante é manter a qualidade de músicas produzidas e de shows realizados.

“Eu sinto falta é de bandas verdadeiras, formadas por amigos que tenham um ideal em comum. Por outro lado, a música é cíclica e a cada dez anos surge um novo movimento”, completa Beto Bruno.

Outras opiniões


Digão (Raimundos): “O Rock se imortalizou! Por mais que o tentem matar, uma hora ele volta mais forte, agressivo, deixando marcas e cicatrizes que as mulheres adoram... rs”.

Tico Santa Cruz – Vocalista do Detonautas Roque Clube: "O Rock continua vivo. Os roqueiros é que estão um pouco confusos, mas não é de conflitos e confusões que o Rock se alimenta? Então deixe o tédio e a ‘mesmisse’ para estilos que só querem fazer dinheiro e não têm nada a acrescentar para a contra-cultura que nunca dependerá de mídia para se manter incomodando os 'tendões de Aquiles' dos acomodados. Rock é transgressão!"

Morreu ou não?


Tenho uma opinião sobre assunto: o Rock não morreu! Embora a atitude rock ‘n’ roll, de transgressão, como citado pelo Tico Santa Cruz, não passe bem. Pois, muito além das guitarras distorcidas, rock é atitude. E as bandas de rock continuam aparecendo.

Isso não quer dizer que apenas o surgimento de bandas de rock seja uma notícia boa, pois, precisa ser uma música de qualidade, com ideais e sem superficialidades.

É preciso criar concorrência. Aquela boa competição que existia entre a Tropicália e a Jovem Guarda, entre os Beatles e Beach Boys e que já foi o combustível pra diversos artistas: o de se superarem e superarem a criação alheia.

Precisamos é de um movimento roqueiro para idolatrar pelos próximos dez anos. A questão agora é: que movimento será esse?

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