A culpa não é da internet

A culpa não é da internet

Se os números apresentados recentemente sinalizam que sim, eu prefiro enxergar de uma maneira diferente.

O tão comentado Scott Timberg, escritor do livro “Culture Crash – The Killing of the Creative Class" (“O Assassinato da Classe Criativa”) aponta para um aumento na concentração de riqueza na cultura norte-americana e, mais do que isso, apresenta números irrefutáveis.

Segundo o escritor, em 1982, 1% dos artistas mais ricos nos EUA ganhavam 26% das receitas com shows. Em 2003, este um 1% levou aproximadamente 60% do dinheiro com apresentações. É uma conta simples: se aumentou a receita para esta fatia, alguém está deixando de faturar.

Ainda em meados da década de 1980, 29 artistas chegaram ao topo da parada norte-americana com 31 canções. Sendo que, de 2008 a 2012, 66 canções foram “número um” do ranking e quase metade eram de apenas seis artistas – Katy Perry, Rihanna, Flo Rida, Black Eyed Peas, Adele e Lady Gaga. Uma redução drástica no número de hits e artistas produtivos.

Como toda boa história tem seu vilão, a culpa desta improdutividade caiu toda sobre a internet. (Que, dizem, “matou” lojas de discos, de livros e diversos empregos).

Outro olhar

Para além da análise da queda no número de venda de discos, ou de artistas nas paradas de sucesso (nos Estados Unidos), existe uma observação que deve ser feita de maneira minuciosa, e que pouca gente fez.

É conhecida a história do mecânico que, para tentar salvar o seu negócio, que definhava, investiu seu capital em publicidade – pintou fachada, mudou identidade visual, criou página nas redes –, mas, o fracasso de sua empresa perdurou.

Na verdade, o problema não estava na publicidade, ou no público que precisava ser atraído, mas, no serviço oferecido pelo empresário: que atuava na manutenção de carburadores.

Ora, os artistas musicais de hoje em dia são como este mecânico. Engessados, e confiante ao extremo para perceberem que o seu produto já está ultrapassado, se esquecendo até do fato de que a maioria dos carros já nem têm mais carburadores. É um serviço que a maioria já não precisa.

Reinventar a roda (?)

Houve uma queda, não na quantidade de artistas, pois ainda os vejo aos montes com páginas na internet, pedindo para serem “seguidos”, “retuitados” ou “curtidos”. A queda, na verdade, foi na qualidade do “serviço” oferecido, e a internet não tem culpa neste processo.

Muito pelo contrário, a rede foi mal interpretada. O emaranhado de links e a possibilidade de compartilhamentos te dá liberdade, mas, não lhe dará o sucesso se continuar oferecendo “manutenção em carburadores” (com a licença do trocadilho). Tempos como o que vivemos necessitam de sofisticação.

Os artistas que se sentem injustiçados (que eles me perdoem) e a mídia especializada até podem criticar Katy Perry, Rihanna, Flo Rida, Black Eyed Peas, Adele e Lady Gaga pelo sucesso alcançado (com jabá ou pelo talento). Mas, é preciso lembrar, que eles não nasceram famosos. Chamaram atenção de grandes gravadoras e produtores.  

O estilo musical escolhido por eles pode até ser questionado e criticado, mas seus talentos não. Todos são bons no que fazem. E um dia eles tiveram que começar, por baixo.

Hoje há o incrível desejo de ser compartilhado e receber a maior quantidade de views quanto possível. Quando na verdade, as pessoas que não te conhecem não vão parar para te observar. É como pedir para que um estranho te dê dinheiro na rua por você ser um bom instrumentista. Mostre que você realmente merece receber o investimento, que merece que paguem R$ 40 pra te ver tocar em duas horas de um show.

O público vai gostar mais de você, quando te ver pingando suor em cima de um palco.

Aos que reclamam da falta de espaço para shows, vocês têm as ruas, pois fora do Brasil (onde esta prática é comum), muitos artistas são descobertos cantando em praças, executando com fervor a sua canção. Só para depois, merecerem um vídeo no youtube.

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