Ser ou não ser (Biógrafo)?

Ser ou não ser (Biógrafo)?

Eis que me ocorreu, no início deste ano, o desejo de fazer um curso de especialização em Jornalismo Literário. Mas, me deparo com uma tempestade de informações, acontecimentos e dúvidas que me fazem (querer) desistir.

- Primeiro: O curso é caro!

- Segundo: O curso, em algumas das instituições em que pretendia ingressar, não abriu vaga.
- Terceiro: Ser biógrafo (o que me permite a especialização em Jornalismo Literário e uma vontade minha), no nosso país, é sofrer, como em outrora, com represálias dos seres a serem "biografados".

Pense agora que, caso eu consiga, um dia, reunir material o suficiente para uma Biografia “Não Autorizada", eu poderei escrever, quiçá até lançar, um livro e ser feliz. Mas, veja, corro o risco de ter a minha obra retirada das prateleiras dias depois do lançamento. Assim como aconteceu ao jornalista Paulo César Araújo ao ter a circulação de sua obra, “Roberto Carlos em Detalhes”, proibida pela justiça.

Eu não gosto de comentar aqui no blog assuntos polêmicos e críticos como este que introduzo agora. Mas, não posso deixar de expressar a minha indignação com tudo o que vem sendo debatido à exaustão sobre o caso "Biografias Não Autorizadas".

Toda essa dor de barriga começou com o processo ganho pelo “Rei” Roberto Carlos em 2007. Daí, com mais uma meia dúzia de acontecimentos em torno do assunto envolvendo outros cantores – (não) pagamento de royalities e alguns problemas de memória –, reuniu dentro da mesma associação: Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Muitos artistas, quando atingem o prestígio (ou certa idade), adoecem de megalomania e, o simples fato de citá-los em algum texto, quer dizer que você lhes deve dinheiro. (Corro este risco?).

Enfim...
Dentro deste redemoinho de egos e brigas judiciais, somados à  saída do rei da “seleção” do Procure Saber, algumas frases – do lado oposto –, encorajam-me a não desistir de, quem sabe, um dia, me tornar um biógrafo (livre).

Assim, aguardo pelo destino do Projeto de Lei do deputado Newton Lima (PT-PR), que pretende liberar as biografias não autorizadas.

Frases
Fagner, cantor: “Sou contra o Procure Saber. Não se pode impedir que as pessoas escrevam. Temos que ter biografias dos artistas brasileiros, de personalidades. Se houver algo incompatível com a realidade, depois resolve na Justiça” - em entrevista ao jornal "O Estado de São Paulo"

Mário Magalhães, jornalista e biógrafo de Carlos Mariguella: "Concordo: é inaceitável a impunidade de biógrafo leviano ou criminoso que difunda informação “infamante ou mentirosa”. Mas a decisão tem de ser da Justiça, e não de censura prévia (...) O conhecimento da história consagra-se como direito humano. Roberto Carlos é, sim, dono da vida dele. Mas não é dono da história. Biografias são reportagens, que constituem gênero do jornalismo. Pagar royalties a personagens descaracteriza biografias não autorizadas — você propõe mesmo dar uns caraminguás aos netos do Médici?" - em carta a Chico Buarque, publicada pelo jornal "O Globo"

Benjamin Moser, biógrafo de Clarice Lispector: "Não é questão de dinheiro, Caetano. A questão é: que tipo de País você quer deixar para os seus filhos? A liberdade de expressão não existe para proteger elogios. Disso, todo mundo gosta" - em carta a Caetano Veloso, publicada pelo jornal "Folha de S.Paulo"

Joaquim Barbosa, presidente do STF: “O ideal seria [que houvesse] liberdade total de publicação, mas cada um assume os riscos. Se violou o direito de alguém, [o autor] vai ter que responder financeiramente. Com isso, se criaria uma responsabilidade daqueles que escrevem (...) Censura prévia é ruim, não é permitido, é ilegal” - na Conferência Global de Jornalismo Investigativo na PUC-RJ

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