Uma noite com Humberto Gessinger

Uma noite com Humberto Gessinger

Humberto Gessinger já se sentiu inseguro em mostrar o que escrevia. Foto: Victor MarimO título tem duplo sentido, eu sei. Mas eu não conseguiria encontrar um título mais apropriado para este post. Porque foi realmente isso o que aconteceu.

Foi uma noite boa – pelo menos pra mim (rs)– sentar ao lado de um dos grandes nomes do rock nacional (e agora da literatura).

Humberto Gessinger esteve em Ribeirão Preto nesta quarta-feira, dia 20, na Fnac, para o lançamento de seu novo disco "Insular" (o primeiro que, realmente, traz somente o seu nome, mas que, segundo ele, não é um disco tão solo assim) e o livro “Seis segundos de atenção” – e completa lista de cinco títulos assinados por ele.

Acima (e antes) de tudo, o bate-papo com o Gessinger me foi encorajador. Ele disse que houve uma época em que se sentia inseguro para expor as coisas que escrevia (dá pra acreditar?), e que por isso, segundo ele, a música acabou surgindo primeiro em sua vida. “Apesar das pessoas me conhecerem como músico, a palavra escrita é anterior à palavra cantada na minha vida. Acho que a minha história é bem comum à daquele guri tímido do colégio, que fazia as redações que a professora gostava. Aquele era eu. Mas nunca tive coragem de mostrar o que eu escrevia. O que quebrou este gelo foi o meu primeiro livro [“Meu pequeno gremista”, lançado em 2008], o menos autoral de todos, porque é um livro que faz parte de uma coleção, falando sobre o Grêmio para um público infanto-juvenil”, explica.

Em seguida, Gessinger lança, em 2009, “Pra ser sincero – 123 variações sobre um tema”, a biografia escrita por Gessinger conta algumas curiosidades sobre os Engenheiros do Hawaii – banda que o gaúcho liderou por mais de 20 anos.

O segundo livro só saiu, segundo ele, após ter lido a biografia do Slash. Gessinger conta que foi passar um fim de semana na Serra Gaúcha e que tinha esquecido de levar o livro que estava lendo. Em busca de algo pra ler, foi a uma pequena livraria. Mas, não tinha nada de muito interessante. “Bem no cantinho da livraria eu achei uma biografia do Slash. Naquele momento, pensando realmente se eu deveria escrever a minha biografia, levei a biografia do Slash pra casa”, recorda.

O compositor brinca, e disse que em três páginas do livro do Slash já havia acontecido mais coisas maravilhosas na vida do guitarrista que em cinco vidas dele, do Gessinger. “Ele tinha tocado com os melhores músicos do universo, tomado tudo o que era possível, a mãe dele era namorada do David Bowie, e eu ficava pensando na minha mãe namorando o David Bowie[risos]”, brinca.

Ainda na terceira página do livro do Slash, Gessinger afirma que já havia chegado à conclusão de que um cara como ele não merecia uma biografia. Mas, na décima página do livro, ele conta que já não aguentava mais ler sobre as bebedeiras do Slash. “Eu cheguei a ter que tomar Engov (remédio usado para evitar ressaca) para conseguir ler o livro. Daí eu mudei o meu pensamento e pensei que, de repente, um cara como eu poderia sim ter uma biografia, pois eu acho que todos nós temos uma vida que daria um bom livro”, diz.

Assim “começou” a carreira literária de Gessinger, entre a insegurança de um “iniciante” e a audácia de um escritor experiente.

Neste trecho do bate papo com o Gessinger, havia passado apenas 4 minutos e, ao contrário do que eu pensei antes de sentar ao lado dele, eu não estava mediando nada (rs), só me divertindo com as coisas bacanas que ele dizia.

Ele se mostrou bem inseguro com relação a alguns pontos de seu trabalho, como a escolha de títulos – inclusive para o nome da banda Engenheiros do Hawaii, ao dizer que não foi muito feliz na escolha. Disse também que não liga se seu livro fez (ou não) parte da lista da revista Veja. ("Nas entrelinhas do horizonte" ficou na lista dos mais vendidos da Veja em 2012). Mas a verdade é que ele conseguiu, de novo, fazer um trabalho bacana – inclusive simultaneamente, com "Insular" e "Seis segundos de atenção"!

“Eu torci muito para que ambos (livro e disco) ficassem prontos no mesmo período. Claro, sem forçar a barra para não adiantar ou atrasar nenhuma das obras. Graças a Deus ficaram prontas no mesmo período”, revela.

Sobre a influência que cada obra, tanto literária como musical, sofreu, Gessinger disse que usou fotos da mesma sessão para estampar as obras e algumas letras do "Insular" saíram do livro “Seis segundos de atenção”, assim como algumas letras que estavam “Nas entrelinhas do Horizonte” viraram música para o disco. “Eu gosto muito dessa zona sombria entre literatura e música. Não tenho nenhuma vontade de separar as duas coisas e me movo bem nessa zona nebulosa. Eu tento deixar que o próprio verso escolha o seu caminho e, pelo menos pra mim, tem funcionado”.

Sobre o disco Insular e os Engenheiros
“É muito legal vocês prestigiarem um artista que está começando [risos]. A última coisa que eu decidi do disco foi lançá-lo como solo. No início eu não sabia se seria um disco dos Engenheiros ou do Pouca Vogal, mas por conta das músicas pedirem ambientes muito diferentes e ter muitos convidados, eu decidi lançar como um disco solo. Pra vocês carregarem comigo o fardo de ter um nome tão difícil de dizer. Agora cada pessoa que chegar em uma loja vai ter que tentar falar o meu nome. O que diminui bastante a minha chance de venda do disco”, brinca o músico

Perguntei ao Gessinger: - Engenheiros do Hawaii, por enquanto não?
“Eu tenho que aprender a responder essa pergunta sobre os Engenheiros, porque eu sinto que isso faz mais diferença pra outras pessoas do que pra mim. Eu fico chateado de não ter uma resposta grandiloquente. Sobre ‘acabou ou não acabou’, mas pra mim faz pouca diferença, pra dizer a verdade não faz nenhuma diferença. Se é com o Engenheiros ou com a Pouca Vogal que lançarei um disco. Nos próximos dois anos não haverá Engenheiros do Hawaii, pois eu vou me dedicar ao Insular da mesma maneira que me dediquei aos outros discos, e pretendo lançá-lo também em DVD. Depois disso, quem sabe, um retorno, seja como Engenheiros ou Pouca Vogal”, ele responde.

Enfim...
Cito uma resposta de Joe Perry (Guitarrista do Aermosmith), sobre carreira solo, para tentar entender (ou explicar) a escolha de Humberto Gessinger ao assumir só agora seus projetos musicais de maneira solo.  “É difícil e duro fazer um disco solo. Toda a pressão está nos seus ombros, não dá para dividir com ninguém”, revelou o guitarrista em entrevista a Pedro Antunes – da RollingStone Brasil.  

O fato de estar, agora, segundo ele, numa fase mais madura, creio que Humberto Gessinger esteja pronto para assumir a pressão de uma carreira "solitária".

Ouça "Insular" no volume máximo (mas com fones, por favor)!

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