Ética e plágio no meio acadêmico-científico

Ética e plágio no meio acadêmico-científico

O conceito de Ética, como parte integrante da Filosofia, refere-se ao “ao estudo dos valores morais e princípios ideais da conduta humana”, sendo que alguns estudiosos diferenciam “a Ética: o que é bom fazer, como agir em relação aos outros; e a Moral: o que é permitido e o que deve ser feito, conforme citado por Paula (2009), ou seja, enquanto “a Moral trata de costumes e valores socialmente produzidos por um grupo social, a Ética aborda e reflete, principalmente, sobre os valores dos indivíduos em face de dilemas e situações críticas da vida”.

Na prática, representam as normas de conduta que delimitam um comportamento entre o que podemos aceitar e aquilo ao qual não poderíamos aceitar dentro de nosso discernimento, representando um procedimento padrão que nos permite tomar decisões comportamentais em relação às nossas tomadas de decisões, com o objetivo de analisar e deliberar em questões e problemas complexos, de acordo com Resnik (2015), com a ressalva de que os indivíduos podem reconhecer normas éticas comuns, entretanto, interpretam ou aplicam conforme o entendimento e compreensão de sua vivência e seus próprios valores pessoais.

A ética pode ser estudada de forma mais pontual e objetiva, quando seus esforços se concentram em algumas disciplinas específicas, estudando e analisando padrões de comportamento tais como na medicina (ética médica), ou nas tomadas de decisões diante de problemas mais complexos e globalizados, tal qual deliberar sobre questões relacionadas às mudanças climáticas, que apresentam diversas perspectivas que devem ser levadas em consideração, tais como a ótica sob o viés econômico, ecológico, político ou ético sobre o problema.

Nesta perspectiva, observa-se que o economista examina sob o viés dos custos e os benefícios sob o ponto de vista das políticas internacionais pertinentes às mudanças climáticas, enquanto a ética ambiental, geralmente um biólogo pode ter uma tendência a analisar mais sob ponto de vista dos valores e princípios ambientais e de recursos naturais que garantam melhor qualidade de vida. Há que se encontram um ponto de equilíbrio.

Neste aspecto, há que se lembrar que as normas éticas vigentes para todas as áreas, estão atreladas aos mesmos princípios e objetivos ou as metas que se almejam alcançar nos trabalhos acadêmicos, aplicando-se indistintamente a todas as pessoas envolvidas no processo acadêmico, por assim dizer, para todos aqueles que executam pesquisas científicas ou outras atividades acadêmicas congêneres.

Desta forma, a ética acadêmica de um pesquisador científico está intrinsecamente ligada aos seus “stakeholders”, ou seja  aos seus educandos, ao pessoal técnico administrativo e de suporte, aos gestores institucionais e, sobretudo aos seus pares que compõem a equipe de pesquisas e produção acadêmica, assim como toda a comunidade acadêmica que constituem seus pares ou não, ou seja, a ética acadêmica e a prática da ciência e da pesquisa científica estão diretamente vinculadas ao cientista em seu processo de valorização da produção acadêmica.

Em termos pontuais sob a visão da ética acadêmica, com o avanço da ciência cada vez mais competitiva em termos de produtividade científica, principalmente por meio de publicações de artigos científicos em revistas especializadas ou capítulos de livros, tem-se identificado cada vez mais, um crescente número de fraudes ou plágios acadêmicos, por parte de pesquisadores aéticos, representados pela falta de  ética desde o processo inicial da pesquisa - projeto, passando pela execução, redação e autoria dos trabalhos à serem publicados.

No sentido da ética acadêmica, o plágio corresponde a uma ação deliberada de plagiar, isto é, copiar obras de terceiros, assim como apresentar como se fosse de sua autoria, desde uma simples ideia, até uma obra escrita ou qualquer criação de outrem, como resultado da utilização sem referencia-los, de concepções de terceiros, sejam já publicadas ou não, sejam por meio de versões impressas ou eletrônicas digitais e em qualquer fase ou estágio do processo de criação, pesquisa ou publicação.

Cumpre lembrar que existem vários tipos de plágios, entre os quais destacamos o plágio deliberado ou intencional – de maior gravidade (autor tem consciência do fato) e o plágio inconsciente ou acidental (falta de conhecimento).

É oportuno lembrar que consideramos plágio, qualquer utilização de conceitos e ideias, modelos, metodologias, técnicas e artefatos originários da criação de outras pessoas, sem a referência ao autor original, seja intencionalmente ou por desconhecimento, especificando ainda, que no caso de iniciantes nas searas da ciência e pesquisa que assim o fazem por desconhecimento, sob a supervisão de orientadores, tem nos mesmos a corresponsabilidade pelo plágio, estando sujeitos as mesmas responsabilidades e sanções éticas e jurídicas previstas legalmente.

Sob estas considerações, observe-se que o plágio corresponde a uma infração extremamente grave, estando intimamente associada juridicamente ao termo fraude intelectual, crime e roubo, e que mesmo sob a justificativa da não intencionalidade, não existem atenuantes, conforme referendados por Cameron et al (2012) que apontam que mesmo erros triviais, em meras citações ou equívocos textuais podem ser entendidos como fator de plágio acadêmico, estando sujeitos a processos de ordem administrativo, cível a até penal, conforme legislação vigente.

Embora o plágio seja uma prática recorrente há muito tempo, com o advento da “internet” e suas ferramentas digitais, houve uma maior facilidade, e em consequência um aumento neste tipo de fraude acadêmica, da mesma forma com que também, atualmente é muito fácil a identificação destas fraudes por meio de excelentes “softwares” antiplágio que identificam detalhadamente o plágio, permitindo a comparação de trabalhos disponíveis na rede de internet, e identificando as suas respectivas fontes.

Imagem: 3D Animation Production Company - Pixabay

Compartilhar: