Teorizando sobre competências e resultados

Teorizando sobre competências e resultados

O conceito e aplicabilidade da competência remonta há milênios, considerando-se que desde 1.750 A.C, o Código de Hamurabi já discorria sobre o tema, em seus aspectos relacionados ao entendimento sobre a autoridade e capacidade de produção, em seu contexto relativo à habilidade para produção de bens materiais e/ou imateriais, ou seja, bens tangíveis e/ou intangíveis).

No âmbito da autoridade, o conceito de competência está mais intimamente relacionada ao meio jurídico, no sentido da atribuição e concessão institucional de apreciação e julgamento de determinados assuntos, estendendo-se a interpretação como uma responsabilidade de alguém, institucionalmente ou socialmente representado, em proferir o reconhecimento qualiquantitativo à respeito de uma determinada demanda, entendida em termos da capacidade de execução de uma tarefa específica (ação e trabalho).

Paralelamente, em seu sentido mais exclusivo, do ponto de vista da competência enquanto capacidade de produção de bens, a sua compreensão torna-se melhor compreendida no contexto das organizações empresariais ou equivalentes, embora tenham sido rotineiramente utilizadas como parâmetros qualitativos individualizados na capacidade de avaliar alguns componentes de desempenho produtivo.

McClelland, na década de 70, já preconizava que a competência poderia ser entendida tal qual um “conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessários ao desempenho das funções dos que as pessoas exercem, visando o alcance dos objetivos da instituição”. Este conceito foi complementado por Fleury e Fleury, em 2001, incorporando aspectos cognitivos, técnicos, sociais e afetivos relacionados às ações de competência, trabalho e associação de seus resultados. Ainda, em consonância, McClelland atenta que os testes teóricos não devem ser empregados como ferramentas avaliativas no processo de competência, uma vez que as competências podem ser identificadas por meio de uma forma direta e prática, e não sob o ponto de vista teórico.

Neste contexto, os componentes do processo de competência podem ser identificados principalmente em relação aos fatores tais como conhecimentos, habilidades e atitudes.

Em relação ao fator conhecimento, pode-se dizer que corresponde às informações identificadas e integradas pelo próprio indivíduo, vindo a refletir sobre a sua forma de julgamento ou comportamento, entendendo que o conhecimento, conforme esta proposta, refere-se ao saber que o indivíduo acumulou ao longo de toda a sua vida, ou seja, corresponde ao saber, enquanto domínio teórico que o indivíduo acumulou cognitivamente sobre uma determinada temática ou conjuntura.

Sobre o fator habilidade, pode-se argumentar que se refere ao processo de aplicação destes conhecimentos teóricos em termos produtivos, ou seja, corresponde à capacidade de saber fazer, possuindo vinculação com a capacidade do indivíduo em estabelecer conhecimentos internos e aplicá-los num determinado contexto, demostrando os conhecimentos alcançados e vindo a originar bons resultados (produtividade).

Por último, no tocante ao fator atitude, evidencia-se que este componente permeia os aspectos sociais e afetivos envolvidos no processo da produtividade, ou seja, está afeto às motivações pessoais e suas deliberações em cumpri-las respeitando-se as premissas de que há a necessidade de “saber o que precisa ser feito, como fazer e querer fazer”. Isto envolve ainda, motivações como sentimentos, emoções ou predisposição individual que vai orientar as condutas em relação aos outros, ao trabalho e situações apresentadas, um vez que as atitudes representam um estado de grande complexidade do indivíduo, e que afetam o seu comportamento no tocante às pessoas, coisas e acontecimentos, que passam a determinar as diretrizes e caminhos à serem seguidos no processo laboral.

Entretanto, devemos nos lembrar que a competência somente poderá ser comprovada se observamos e verificarmos o comportamento individual na prática, o que significa que a competência deve corresponder à capacidade de um indivíduo em recrutar associativamente suas próprias “habilidades” objetivando saber fazer seus conhecimentos e atitudes, tal qual saber ser, com o propósito de solucionar determinadas situações.

Independentemente das questões conceituais de competência, em termos de produção materiais de bens e serviços, especialmente no que se refere às produções intelectuais (intangíveis), que acredito preceder a produção de bens materiais (resultados tangíveis) e, tampouco entrar no campo da meritocracia, ficando evidente que tudo isto prescinde de muita base teórica, conhecimentos básicos, resiliência e inúmeros outros fatores (inclusive ambientais) para que se processem com êxito, em busca dos resultados almejados.

 

Imagem: Gerd Altmann / Pixabay

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