O começo do fim

O começo do fim

Retrato  Cecília Meireles

Eu não tinha este rosto de hoje, 
assim calmo, assim triste, assim magro, 
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força, 
tão paradas e frias e mortas; 
eu não tinha este coração que nem se mostra. 

Eu não dei por esta mudança, 
tão simples, tão certa, tão fácil: 
- Em que espelho ficou perdida a minha face?

Eu nunca fui muito vaidosa, mas queria gostar do que via no espelho. Queria sentir prazer em me cobrir com uma roupa nova ou me despir sem medo. Durante um bom tempo essa foi uma situação sem solução. E olha que eu não deixei as coisas chegarem ao limite, embora estivessem fora do meu controle.

Comecei a procurar um culpado. As escolhas do passado, as consequências, a ansiedade, o estresse, a correria... Viajei no tempo, busquei motivos. Lembrei-me dos sonhos, confrontei com as conquistas e o saldo foi positivo. Achei que era apenas uma questão de “querer”. E ao querer, percebi que não conseguia mais comandar o meu corpo.

Esse choque de realidade foi duro, mas eu tinha que conseguir emagrecer. Queria emagrecer. Tentei de TODAS as maneiras. Experimentei varias dietas, fórmulas, coloquei “balão”, tirei o “balão”, fiz abdominoplastia, academia, consultei nutróloga, nutricionista... Exames e mais exames, dezenas de exames, até que um dia, depois de quase perder a cabeça, veio o diagnóstico: meu pâncreas estava sem controle!

A nutricionista com o resultado do exame de Insulina Basal alterado me encaminhou para uma Endocrinologista. Era o começo do fim dessa etapa ruim.

Imagem: Pierro, de Antonio Alexandre, 2004

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